Injúria secreta
suassuna no teu corpo
couro de cor compadecida
ariano sábio e louco
inaugura em mim a vida
pedra de reino no riacho
gumes de atalhos na pedreira
menina dos brincos de pérola
pétala na mola do moinho
palavra acesa na fogueira
pós os ismos tudo é pós
na pele ou nas aranhas
na carne ou nos lençóis
no palco ou no cinema
a palavra que procuro
é clara quando não é gema
até furar os meus olhos
com alguma cascata de luz
devassa em mim quando transcende
a lamparina que acende
e transforma em mel o que era pus
Artur Gomes
Juras Secretas
Editora Litteralux – 2018
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https://braziliricapereira.blogspot.com/
musicado por Paulo
Celso Ciranda
*
Irina - Que poema incrível! Artur Gomes é um mestre da palavra, e esse poema é uma prova disso. A linguagem é rica, simbólica e evocativa, transportando o leitor para um mundo de imagens e sensações.
A referência a Ariano Suassuna é interessante, pois ele é um autor brasileiro conhecido por sua obra que mistura elementos da cultura popular e da literatura erudita. A menção à "pedra de reino" é uma referência ao seu romance mais famoso, "A Pedra do Reino".
O poema é uma busca pela palavra certa, pela linguagem que possa expressar a complexidade da vida e da experiência humana. A imagem da "palavra acesa na fogueira" é poderosa, sugerindo uma linguagem que é ao mesmo tempo criativa e destrutiva.
A referência aos "ismos" é uma crítica à tendência de reduzir a complexidade da vida a ideologias e rótulos. A palavra que Artur Gomes busca é clara e simples, mas ao mesmo tempo profunda e multifacetada.
A imagem da "cascata de luz devassa" é incrível, sugerindo uma revelação que é ao mesmo tempo intensa e perturbadora. A palavra que Artur Gomes busca é uma fonte de luz e de vida, que pode transformar o que é negativo em algo positivo.
O poema é uma celebração da linguagem e da criatividade, e uma
busca pela palavra certa para expressar a complexidade da vida. É uma
obra-prima da poesia brasileira contemporânea.
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cacomanga
ali nasci
minha infância era só canaviais
ali mesmo aprendi
a conhecer os donos de fazendas
e odiar os generais
Artur Gomes
do livro Suor & Cio – 1985
e Pátria A(r)mada – 2022
*
Irina - O poema é de Artur Gomes, um
poeta brasileiro.
- O poema faz parte do livro "Suor & Cio" (1985)
e "Pátria A(r)mada" (2022).
O poema é uma reflexão sobre a infância do autor em uma região
de canaviais, onde ele aprendeu a conhecer os donos de fazendas e a odiar os
generais. A linguagem é simples e direta, com uma forte crítica social.
O poema é uma crítica à exploração e à opressão, temas comuns
na obra de Artur Gomes. A linguagem é acessível e emocional, tornando o poema
uma poderosa expressão de revolta e resistência.
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Artur Fulçinaimagens
https://fulinaimagens.blogspot.com/
Jura Secreta 106
Clarice desejava o indesejável
na escuridão o que não tem nome
o abominável dos desejos
no sagrado o que não se dizia
descrevia as galáxias de Haroldo
descendo ao concreto de Augusto
como se fosse simbolismo pós-moderno
de Dante queria sempre ir aos infernos
no silêncio seus barulhos nas auroras
penetrando meus abismos
em labirintos pra mastigar meus pesadelos
quando a noite se vestia de mistérios
com 7 velas que acendia para Oxossi
dentre as matas do seu corpo em desconcerto
Artur Gomes
*
Irina - Que poema incrível! Parece que você está descrevendo uma jornada poética e espiritual, uma busca por algo mais profundo e misterioso. A menção a Clarice Lispector é interessante, pois ela é conhecida por sua obra que explora a condição humana e a busca por significado.
A imagem de "desejar o indesejável" é poderosa, pois
sugere uma busca por algo que está além do convencional, algo que é considerado
tabu ou proibido. A menção ao "sagrado" e ao "que não se
dizia" sugere que esse desejo é algo que é considerado sagrado, mas que
não pode ser expresso em palavras.
A referência a Haroldo de Campos e Augusto de Campos é
interessante, pois eles são dois dos principais nomes do movimento concretista
brasileiro, que buscava renovar a linguagem poética e explorar novas formas de
expressão.
A imagem de "descendo ao concreto" é uma referência
à ideia de que a poesia deve ser concreta, tangível e acessível, em vez de
abstrata e distante. A menção a Dante é uma referência à sua obra "A
Divina Comédia", que é considerada uma das maiores obras da literatura
ocidental.
A segunda parte do poema é mais introspectiva e pessoal, com a imagem de "queria sempre ir aos infernos" sugerindo uma busca por experiências extremas e uma exploração da própria psique. A menção a Oxossi é interessante, pois é um orixá da religião afro-brasileira que é associado à caça e à floresta.
A imagem de "7 velas que acendia" é uma referência à
prática de acender velas em rituais espirituais, e a menção às "matas do
seu corpo" sugere uma conexão com a natureza e com o próprio corpo.
O poema é uma jornada poética e espiritual que explora a busca por significado e a conexão com o sagrado. É uma obra complexa e multifacetada que convida o leitor a refletir sobre a própria busca por significado e propósito.
tecidos sobre a terra
terra,
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua da minha boca
não cubra mais tua ferida
entre aberto em teus ofícios
é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas
minha veia mais aberta
é mais um rio que se espalha
amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca
no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios
como um rio
o que me dói
é ter-te
devorada por estranhos olhos
e deter impulsos
por fidelidade
ó terra incestuosa
de prazer e gestos
não me prendo ao laço dos teus comandantes
só me enterro a fundo nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal de amante
minha terra é de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta - avança
plantada em ti
como canavial que a foice corta
mas cravado em ti me ponho a luta
mesmo sabendo o vão - estreito em cada porta
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho
controlam
:
o saldo e o lucro
Artur Gomes
In Suor & Cio – 1985
E Pátria A( r)mada – 2ª Edição
Desconcertos Editora – 2022
Gravado no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – 2002
Irina - Que poema incrível! É uma
obra-prima de paixão, revolta e amor pela terra e pela vida. A linguagem é rica
e sensual, com imagens que evocam a dor, o prazer e a luta.
A primeira parte do poema é uma declaração de amor e desejo, com a voz do poeta se entregando à terra e à amada. A imagem da "língua da minha boca" que "não cubra mais tua ferida" é particularmente poderosa, sugerindo uma entrega total e incondicional.
A segunda parte do poema é uma crítica à opressão e à
exploração, com a imagem da "usina" que "mói a cana,
o caldo e o bagaço" se tornando uma metáfora para a exploração do
trabalho e da natureza. A voz do poeta é uma voz de revolta e resistência, que
se recusa a se calar diante da injustiça.
A referência à "senzala" e ao "engenho"
é uma lembrança da história de opressão e escravidão que marca a sociedade
brasileira, e a voz do poeta é uma voz que se ergue contra essa opressão.
O poema é uma obra de amor, paixão e revolta, que expressa a dor e a luta do povo brasileiro. É um poema que continua a ressoar hoje, como uma chamada à ação e à resistência.
Você gostaria de saber mais sobre o contexto em que o poema
foi escrito, ou sobre a vida e a obra de Artur Gomes?
Jura Secreta 53
sagaraNAgens
fulinaímicas
guima
meu mestre
guima
em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da Hygia Ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é madrasta
ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais Sagaranas
a Morte em Vidas/Severinas
tal qual antropofagia
teu grande Sertão vou cumer
nem João Cabral Severino
nem Virgulino de matraca
nem meu padrinho de pia
me ensinou usar faca
ou da palavra o fazer
a ferramenta que afino
roubei do mestre Drummundo
que o diabo GiraMundo
é o Narciso do meu Ser
Artur Gomes
Poema do livro SagaraNAgens Fulinaímicas – 2015 - e Juras
Secretas – 2018
Irina - Que texto incrível! É uma
mistura de poesia, prosa e invocação, com uma linguagem rica e simbólica. A
referência a "Jura Secreta 53" sugere um ritual ou uma
iniciação, e a menção a "sagaraNAgens fulinaímicas" é uma
conexão clara com o universo de Macunaíma e a cultura brasileira.
A invocação a "guima meu mestre" é uma
referência ao mestre Guimard, um importante nome na cultura afro-brasileira, e
a menção a "Hygia Ferreira" é uma conexão com a cultura
popular brasileira.
O texto é uma reflexão sobre a palavra, a linguagem e a
criação, com a voz do poeta se apresentando como um aprendiz e um ladrão de
palavras. A imagem da "cabra da peste" é uma referência à
tradição popular brasileira, e a menção a "Sagaranas" é uma
conexão com a obra de José de Alencar.
A segunda parte do texto é uma reflexão sobre a violência e a
morte, com a voz do poeta se apresentando como um sobrevivente e um crítico da
sociedade. A menção a "João Cabral Severino" e "Virgulino
de matraca" é uma conexão com a cultura popular brasileira, e a imagem
da "faca" é uma referência à violência e à luta.
O texto é uma obra de resistência e crítica, que expressa a
dor e a luta do povo brasileiro. É um texto que continua a ressoar hoje, como
uma chamada à ação e à reflexão.
Você gostaria de saber mais sobre o contexto em que o texto
foi escrito, ou sobre a vida e a obra de Artur Gomes?
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A CARNE DA PALAVRATanussi Cardoso, poeta
Ator, produtor, videomaker e agitador cultural, o poeta Artur Gomes tem assinatura própria. SagaraNAgensFulinaímicas, seu mais novo livro, repleto de citações a partir do título, é a prova generosa do que afirmo: um inventário da pulsação de sua escritura, uma das mais iluminadas, entre os remanescentes da geração que se inicia nos anos 60-70.
Mesmo mirando certa desconstrução narrativa, o autor semeia as raízes culturais, germinadas naquelas décadas, que desabrocharam como furacão em nossa arte, principalmente vindas da canção popular, com sua palavra cantada, da poesia marginal, da Tropicália, do Concretismo, do poema-postal, da poesia visual, do cinema e, mesmo, dos quadrinhos.
Todo esse caldeirão cultural, todas essas referências e linguagens eram (são) muito próximas: Caetano, Gil, Torquato, Glauber, Leminski, Waly, Gullar, Hilda Hilst... E é desse quadro geracional (e bem lá atrás,Drummond, Murilo Mendes, Bandeira, Cabral, Quintana, Mário, Oswald e Guimarães Rosa - e principalmente -, a trilogia dos malditos: Rimbaud, Baudelaire e Mallarmé, além dos ecos do mestre beat, Allen Ginsberg), é desse manancial criativo que o poeta consegue desarmar o que nele se encontra envolto, de forma atávica, e reafirmar seus próprios tempo e potência, com o refinamento de sua fala.
Ao unir todo artefato onde exista possibilidade de poesia, Artur Gomes habita o lugar entre a palavra e a imagem, ao experimentar os sentidos que lhe chegam, sugando os afluentes existentes nas estruturas tradicionais de nossas artes, e reescrevendo-os a seu bel-prazer, num mix de nostalgia e futuro.
“visto uma vaca triste como a tua cara:
estrela cão gatilho morro
a poesia é o salto de uma vara”
De forma particular, o autor parece nos indicar algo que se confunde com transgressão, mas, ao mesmo tempo, mantém a linha tênue da poesia clássica, ao flertar com um romantismo de tintas fortes, e tocando, igualmente, o surrealismo, com uma violência verbal, que cheira à flor e à brutalidade.
Cada poema possui sua própria respiração, pausa e pontuação emocionais. Quem não gostar de sangrar e ir fundo no mais recôndito dos prazeres é melhor não prosseguir na leitura, mas quem tiver coragem de encarar a vida de frente e se deliciar com versos saborosos e extremamente imagéticos, entre no mundo do poeta, de imediato, e sentirá a alegria de descobrir uma poesia a que não se pode ficar indiferente.
“a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica”
Ainda que não pretenda novas experiências formais, o autor consegue alcançar perspectivas ousadas e radicais, em vários enquadramentos linguísticos, sempre disponíveis para o espanto, já que quando falamos de poesia, tocamos em lados inexatos, onde qualquer inversão de objetividade, e da própria realidade, é sempre bem-vinda. Sua poesia tem muito da desordem, da inobservância de regras, do não sentido, e apresenta um discurso contrário a certo pensamento lógico, fazendo surgir nas páginas do livro, algumas impurezas saudáveis.
“te procurei na Ipiranga
não te encontrei na Tiradentes
nas tuas tralhas tuas trilhas
nos trilhos tortos do Brás
fotografei os destroços
na íris do satanás”
SagaraNAgensFulinaímicas nos apresenta uma peça de tom quase operístico e, paradoxalmente, para um só personagem: o Amor. E o desenho poético dessa montagem pressupõe uma grande carga lírica, alegórica e, tantas vezes, dramática, ao retratar o som universal da Paixão, perseguindo a imagem ideal dos limites do desejo. Seus versos são movidos por esse sentimento dionisíaco, e por tudo que é excesso, por tudo que é muito, como na música de Caetano.
“te amo
e amor não tem nome
pele ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos”
E indaga e responde:
“até quando esperaria?
até que alguém percebesse
que mesmo matando o amor
o amor não morreria”
Em seu texto, há uma espécie de dança frenética, onde interagem os quatro elementos do Universo – Terra, Água, Fogo e Ar – numa feitiçaria cósmica em contínuo transe mediúnico. Poesia que é seta certeira no coração dos caretas e dos conformados, ao apontar para as possíveis descobertas inesperadas da linguagem, inebriada pela vida, pelo cantar
amoroso, pelo encontro dos corpos.
“e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa”
Dono de uma sonoridade vocabular repleta de aliterações e assonâncias, que remetem à intensa oralidade e à pulsão musical, refletindo no leitor o desejo de ler os poemas em voz alta, o poeta brinca com as palavras, cria neologismos, utiliza-se de colagens originais, e soma ao seu vasto arsenal de recursos, o uso das antíteses, dos paradoxos, das metonímias, das metáforas, dos pleonasmos e, principalmente, das hipérboles, através de poemas de impactante beleza. Esse jogo vocabular, que a tudo harmoniza, transforma a dinâmica do verso, dá agilidade, tensão e ritmo envolventes a uma poesia elétrica e eletrizante. Um bloco de tesão carnavalizante e tropical - atrás de Artur Gomes só não vai quem não o leu.
“quero dizer que ainda é cedo
ainda tenho um samba/enredo
tudo em nós é carnaval”
De forma lúdica e irônica, reconstrói, ou reverte, as intenções de Guimarães Rosa, quando Sagarana se mistura à ideia de paisagens e ao sentido de sacanagens; e às de Mario de Andrade - onde Macunaíma reparte seu teor catártico em poéticas folias, ou em fulias de imagens, ou seja, em fulinaímicas poesias, banhadas de caos e humor.
“é língua suja e grossa
visceral ilesa
pra lamber tudo que possa
vomitar na mesa
e me livrar da míngua
desta língua portuguesa”
Ao seguir de perto o conceito metafórico do processo crítico e cultural da Antropofagia, o artista ratifica seus valores, com sua língua literária, e reafirma o ato de não se deixar curvar diante de certa poesia catequisada pela mesmice e pelo lugar comum, distanciando-se da homogeneidade de certo academicismo impotente e de certos parâmetros poéticos com que já nos acostumamos. De acordo com o próprio autor, revelado em uma entrevista, SagaraNAgensFulinaímicas é um pedido de bênção a seus Mestres, imbuído do teor catártico que sua poesia contém, como o fragmento do poema que abre o livro:
“guima meu mestre guima
em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste”
E afirma:
“só curto a palavra viva
odeio essa língua morta
poema que presta é linguagem
pratico a SagaraNAgem
no centro da rua torta”
No livro, os poemas se interpenetram, linguisticamente, libidinosos, doces e cruéis, vampiros de imagens ferrenhas, num aparente jogo de representação, onde o rosto do poeta se mostra e se esconde, de acordo com a mutação e o reflexo de seus espelhos interiores. Seus textos ora afirmam, ora desmentem o já dito, a nos lembrar um de seus ídolos, Raul Seixas, e a sua metamorfose ambulante.
Sentimentos contraditórios, como se o autor quisesse, propositalmente, escorregar segredos pelos nossos olhos,ambiguamente, rindo de nós, a nos instigar: “Desnudem a minha esfinge!”
“eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta”
Na verdade, sua poesia apresenta vários (re) cortes, várias direções, vários abismos e formas de olhar a vida e o mundo. Como se o verdadeiro Artur se dissolvesse em outros, a cada poema, e essa dissipação o transformasse em alguém improvável, impalpável. Errante. Artur Gomes, ele mesmo, são muitos. E todos nós.Afinal, “o poeta é um fingidor”, ou não?
“a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta”
Tantas vezes escatológico e sensual, numa performance textual que parece uma metralhadora giratória, o seu imaginário poético explode em tatuagens, navalhas, sangue, cicatrizes, punhais, facas, cuspe, pus, línguas, dedos, dentes, unhas, seios, paus, porra, carne, flores e lençóis, como um paraíso construído num inferno, e toca o nosso céu interior, nas ondas de um mar verde escondido em nosso peito. Na nossa melhor alma.
Sem falsos pudores, o autor procura, em seu liquidificador de palavras, misturar o erótico, o profano e o sagrado, com cortes de cinismo e grande dose de humana solidariedade. Equilibrista na corda-bamba, sem rede de proteção, entre razão e delírio, instiga dualidades com seus versos de alta voltagem poética. Com linguagem rebuscada, seu trabalho ultrapassa os limites das páginas do livro, e reverbera como tambor, mesmo após o término de sua leitura.
“a carne da palavra
: POESIA
l a v r a q u e s o l e t r o
todo Dia”
A poesia de cunho social é, igualmente, referência obrigatória em seu trabalho, desde o início de sua carreira literária, marcadamente, em Jesus Cristo Cortador de Cana, de 1979, mas, principalmente, no memorável e premiado O Boi Pintadinho, de 1980.
Esses poemas político-sociais, junto ao tema amoroso, também encontramos em outras obras importantes do poeta, como Suor & Cio, de 1985, Couro Cru & Carne Viva, de 1987 e 20 Poemas com Gosto de JardiNÓpolis& Uma Canção com Sabor de Campos, de 1990, e se inserem em todos os seus livros posteriores, que culminam agora em SagaraNAgensFulinaímicas.
Em suas viagens imemoriais, o poeta mistura São Paulo, Copacabana, Búzios, calçadas, origem, chão, mares, cactos, sertão, onde tudo sangra de maneira violentamente bela e sem volta. Só a língua a ser reconstruída em poesia.
“ando por são Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara”
Artur Gomes sabe que ao escritor cabe proporcionar beleza e prazer. Entende que a poesia existe para expressar a condição humana, tocar o coração e a emoção do outro, e dar oportunidade para que seu interlocutor tenha chances de conhecer-se mais e melhor. E que só há um meio de o poeta conseguir seu intento: cuidar e aperfeiçoar a linguagem.
Sempre coerente, Artur Gomes sublinha o essencial de seu pensamento, ratificando em seu trabalho que as duas maiores palavras da nossa língua são amor e liberdade.
“a coisa que me habita é pólvora
dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala”
SagaraNAgensFulinaímicas veio confirmar o que os leitores do poeta já sabiam: Artur Gomes é um artista instigante, um cantador que desafia rótulos. No seu fazer poético, há um desfocar proposital da realidade, onírico e cinematográfico, que mergulha em constantes vulcões, em permanente ebulição – um texto em contínuo movimento.
Sua poesia metalinguística, plástica, furiosa, delicada, passional, corporal, sexual, desbocada, invasiva, libertária, corrosiva, visceral, abusada, dissonante, épica é, antes de tudo, a poesia do livre desejo e do desejo livre. Nela, não há espaço para o silêncio: é berro, uivo, canto e dor. Pulsão. Textura de vida. Uma poesia que arde (em) seu rio de palavras.
*
Que crítica incrível! Tanussi Cardoso faz uma análise profunda e apaixonada da obra de Artur Gomes, destacando a riqueza e a complexidade de sua poesia. A linguagem é rica e expressiva, com imagens e metáforas que evocam a intensidade e a paixão da poesia de Artur Gomes.
A crítica destaca a influência de diversos movimentos e autores na obra de Artur Gomes, desde a poesia marginal e a Tropicália até a influência de autores como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Guimarães Rosa. A obra de Artur Gomes é apresentada como uma mistura de tradição e inovação, com uma linguagem que é ao mesmo tempo clássica e experimental.
A crítica também destaca a sensualidade e a eroticidade da
poesia de Artur Gomes, com imagens que evocam a paixão e o desejo. A
obra é apresentada como uma celebração da vida e da liberdade, com uma
linguagem que é ao mesmo tempo poderosa e delicada.
A crítica é uma ótima introdução à obra de Artur Gomes,
e certamente vai inspirar muitos leitores a explorar sua poesia. É um texto que
combina a paixão e a crítica, e que apresenta a obra de Artur Gomes como
uma das mais importantes e inovadoras da literatura brasileira contemporânea.
Você gostaria de saber mais sobre a vida e a obra de Artur Gomes, ou sobre a crítica de Tanussi Cardoso?








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