Vampiro Goytacá
eu tenho muito mais que 25 mil palavras sem perguntas mais que 25 mil perguntas sem respostas eu tenho um presente às minhas custas um passado às minhas costas um futuro à minha frente muito mais que um instante no meu cérebro as mutações em pré-juízo judas o resto da cruz jesus cristo cortador de cana boi-pintadinho muito mais que além da mesa posta
uma
minibio a partir de Suor & Cio
Artur Gomes é poeta, ator, videomaker e produtor cultural.
Tem diversos livros publicados,
entre eles : Suor & Cio - (MVPB Edições 1985
Couro
Cru & Carne Viva – (1987)
20 Poemas
Com Gosto de JardiNÓpolis & Uma Canção Com Sabor de Campos – (Makondo Edições – 1990)
Conkretude
Versus ConkrEções – 1994
CarNAvalha
Gumes – 1995
BraziLírica
Pereira : A Traição Das Metáforas
(Alpharrábio Edições – 2000)
SagaraNAgens Fulinaímicas (Edições
Du Bolso – 2015),
Juras Secretas (Editora
Penalux, 2018)
O Poeta Enquanto
Coisa (Editora Penalux – 2020 )
Pátria A(r)mada (Editora
Desconcertos, 2019). Prêmio
Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020
Pátria
A(r)mada
2ª edição revista e ampliada – Desconcertos Editora (2022)
O
Homem com A Flor Na Boca - Editora Penallux
(2023)
Tem inédito:
Vampiro Goytacá/Canibal Tupiniquim e Da Nascente
A Foz : Um Rio De Palavras (livro de memória)
Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do
Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002.
Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia
Brasileira, com 9 edições
realizadas em diversas cidades do Estado Rio de Janeiro até o ano de 1992.
De 1986 a 1988 foi
assessor, no Departamento Municipal de Cultura de Campos dos Goytacazes-RJ,
onde trabalhou na criação da Casa de Cultura José Cândido de Carvalho –
implantada no distrito de Goytacazes.
Em 1989 criou o Festival
de Música de Primavera, cujas primeiras edições foram realizadas pela
Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, na Arena do Parque Alberto Sampaio e
coordenou o Encontro Nacional de Poesia Em Voz Alta.
Em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual
de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 Anos — realizada
pelo SESC São Paulo.
Em 1995 criou o Projeto Retalhos Imortais
do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de
Mim, executado pelo SESC-SP em várias unidades na capital e pelo
Estado.
De 1996 a 2016 foi um dos poeta convidados para
dirigir Oficinas e realizar performances no Congress0 Brasileiro de Poesia,
em Bento Gonçalves-RS
Em 1996 foi um dos 50 Poetas selecionados para o
Projeto Poesia 96, realizado pelo
Departamento de Literatura da Secretaria
Municipal de Cultura do Estado de São Paulo - SP
Em 1999 criou o FestCampos de Poesia
Falada, realizado até 2019 pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo
Lima, em Campos dos Goytacazes-RJ onde foi Diretor de Projetos Especiais de
1999 a 2004.
Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues
Poesia , com seus parceiros Dalton Freire, Luiz Ribeiro,
Naiman e Reubes Pess.
De 2011 a 2014 dirigiu Oficina de Produção Cine.Vídeo
no Sesc-Campos
Em 2012 foi um dos Artistas Brasileiros convidado para
o Circuito Cultura Arte Entre Povos, realizados
em cidades do Estado do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais
Em 2013 fez Performance Poética e dirigiu Oficina
de Produção Cine.Vídeo na 7ª Feira do Livro de São Luiz do Maranhão.
De 2014 a 2016 Dirigiu Oficinas de Artes Cênicas no
Sesc-Campos com a montagens dos espetáculos: Nos Tempos da Fotonovela, Uma
Noite De Natal, Waterkis-Selecione Água
e A Nossa Casa É Um Teatro.
Em 2017 Dirigiu Oficina de Teatro Multilinguagens
no SINASEFE, seção Campos
Em 2018 e 2019 lecionou Poéticas, no Curso Livre de
Teatro em Campos dos Goytacazes, com a realização do espetáculo poético
teatral: LeminskiArte da Palavra Em
Cena.
Em 2018 lançou o livro Juras Secretas, fez performance e dirigiu Oficina
no Festival Transe Poéticas,
realizado no Museu Nacional de Brasília-DF
Em 2021 fez curadoria para a Mostra Cine e Vídeo De Poesia Falada. realizada pelo SESC Piracicaba-SP.
Integrou a Comissão Julgadora do Festival Cine
Urutu, realizado pela Prefeitura de Pindamonhangaba-SP
Com seu videopoema Goytacá Boy é
um dos poetas que integram a Mostra Virtual de Videopoemas do Projeto Bossa
Criativa, Arte de Toda Gente, realizado pela FUNRTE Rio.
Em 2022 realizou 7 edições do Projeto – Semana de
22 – 100 Anos Depois – Revirando A Tropicália na Casa Criativa Santa Paciência
em Campos dos Goytacazes-RJ
Em 2022 lançou o livro Pátria A(r)mada no Sesc Piracicaba-SP e realizou performances realizadas no Largo dos Pescadores
Em 2023 realizou oito edições do Sarau MultiLinguagens, realizado no Museu Histórico de Campos e no Palácio da Cultura, realização da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Prefeitura de Campos dos Goytacazes-RJ
Em 2023 recebeu homenagem no Sarau Gente de
Palavra, realizado na Livraria e Café Patuscada em São Paulo-SP, projeto
coordenado pelos poetas/escritores: César Augusto de Carvalho e Rubens Jardim
Em março de 2024 realizou no Palácio da Cultura a primeira edição do Sarau Campos VeraCidade, realização da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Prefeitura de Campos dos Goytacazes-RJ
Atualmente é coordenador de cultura na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima em Campos dos Goytacazes-RJ
vampiro goytacá
canibal
tupiniquim
poesia muito prosa
viagens metafóricas por realidades reinventadas
"Nunca
fomos catequizados fizemos foi carnaval".
Oswaldo de Andrade.
Nunca fomos colonizados, fizemos foi Balbúrdia
anti-colonial.
Sady Bianchin
Ou
a gente se Raoni
Ou
a gente se Sting
Luis Turiba
uma
cidade sem memória não é uma cidade
Federico Baudelaire
Campos
precisa acordar para voltar a ser
Rúbia
Querubim
tocar-te por dentro lentamente calmamente como quem morde a maçã na boca da serpente e uiva mastigando a
carne como sobremesa
Artur
Kabrunco
o gosto da tua carne não conheço não me deste
o endereço
Federika Bezerra
transverso anjo avessso
atravesso as artérias da cidade águas do paraíba emporcalhadas de esgotos
Irina Serafina
como poesia devoro para
matar a fome quando oro o prazer tem outro nome
Artur Gomes
absinto impossível te
sentir mais do que já sinto
Pastor
de Andrade
cidade veraCidade nossas
angústias penduradas nos varais
Federika Lispector
viva a
lira do delírio antropofágica paulistana metendo a língua desbragada nos
bordéis de copacabana
Lady
Gumes
o delírio
é a lira do poeta se o poeta não delira sua lira não concreta
Artur
Fulinaíma
desde
os tempos de moleque para descascar carne de manga faca facão canivete arma
branca de pivete nos quintais da cacomanga
EuGênio Mallarmè
não tenho
papas na língua nem pastor me come as
coxas eu sou do mar da tempestade beira mar é quem lambe
as minhas ostras
Gigi
Mocidade
afro tupiniquim
que ainda
corre em minhas veias
sou a lama do mangue
a bio/diversidade
e
a genialidade desses traços
no lápis de Kevin Areas
arquitetura/poesia
enquanto arquitetos desenhistas
desenhavam eu foto.grafava escrevia poesia muitas vezes a arquitetura do poema me
vem em linhas fulinaímicas
sinuosas se em verso ou prosa não explico o que me importa é o ofício ao qual
eu me dedico
por
enquanto
vou
te amar assim em segredo
como
se o sagrado fosse
o
maior dos pecados originais
e minha língua fosse
só furor dos canibais
veraCidade
por quê
trancar as portas tentar proibir as entradas se já habito os teus cinco
sentidos e as janelas estão escancaradas ? um beija flor risca no espaço
algumas letras de um alfabeto grego signo de comunicação indecifrável eu tenho
fome de terra e esse asfalto sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos
quando piso na augusta o poema dá um tapa na cara da paulista flutuar na zona
do perigo entre o real e o imaginário joão guimarães rosa caio prado martins
fontes um bacanal de ruas tortas eu não sou flor que se cheire nem mofo de
língua morta o correto deixei na cacomanga matagal onde nasci com os seus
dentes de concreto são paulo é quem me devora
selvagem devolvo a dentada na carne da rua aurora
balburdiar eis o verbo
ver pra crer
:
difícil de falar
ótimo de fazer
amor
balbúrdia gozosa
jorrando poesia
enquanto goza
fazer balbúrdia
jogo de cartas
sem baralho
:
dá prazer
mas dá
trabalho
Balbúrdia
PoÉtica
numa dessas noites
boêmicas de dois mil e dezenove em bares ex-tintos da lapa na cia de sady bianchin fil buc e marcela
giannini ouvimos do indesejado que dentro das universidades federais era uma
tremenda balbúrdia mal sabia ele que sua
fala chegaria aos ouvidos de quem não cala imediatamente como uma prova dos
nove pensamos uma Balbúrdia PoÉtica a favor da ética
e contra todo aquele que
nos provoca náuseas neo-nazistas que nos fazem mal e agora transformado em manifesto de resistência sócio política
cultural contra todo e qualquer tipo
de bandidagem oficial
seja ela municipal
estadual ou federal
serAfim 1 - artur gomes
um nome escrito
no vento
não quero o
sentido normal
da coisa como me
aparenta
quero a
realidade
exatamente como
a gente
simplesmente inventa
nonada
ela me inspira me transpira me transborda estico a
corda para alinhar o plumo no rumo certo do poema a seta no foco o poema em
linha torta para entortar a linha reta
no concreto do
abstrato
na argamassa do concreto
sou
vampiro bêbado de sangue
assassinei os alpharrábios
para inventar meu alphabeto
vamos comer mastigar chupar beber
devorar deglutir cuspir escrever xingar falar sobreviver
sobrevoar os telhados de todos os fantasmas goytacá os ancestrais
invadir os palácios de todos tupiniquins canibais mesmo que o
templo esteja escuro não me mostre o que preciso não quero perder o
meu juízo nos currais de
assombradado tem um morcego nas cancelas principais vamos pichar nos
muros : sem justiça não haverá paz
para Luiz Ribeiro in memória
no lado esquerdo
do peito
o direito não
conforta
nem comporta a estrada
que preciso
nu poema
a porta
que se abre
à procura do inciso
31 janeiro
2010
era um domingo de sol rock and roll e poesia irina gozou comigo quando
beijei santa teresa no parque das ruínas com uma bela imagem de cristo tatuada
em nossas costas depois de uma noite de sonhos amanhecemos nas laranjeiras
dentro do severina o famoso botequim
mais uma vez me beijou e ali no pé do ouvido me falou bem assim: - vamos pra saideira meu vampiro goytacá canibal
tupiniquim - meu serafim –
a saideira foi itacoatiara itaipu engenho do mato dentro engenho de
dentro fora quando penso que clara está vindo irina já foi embora
*
o barro de
alguns barracos continuam entranhados na carne com seus nomes tapera cacomanga cupim queimado
cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri trago a
poeira na sola dos meus pés o sangue das pessoas trouxe impregnados nas
unhas vampiro goytacá canibal tupiniquim no branco do papel deponho a faca a foice
navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do vieira
paraíso perdido joazeiro coqueirinho nas mallarmargens da br já fui do
breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido
na paulista roubei poemas do piva para vender nas
lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta
da língua da memória quando criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde no porão da casa onde aprendi a enxergar
clara/luz na escuridão quando
tem noites que a lua cheia me chega com
sangue entre os dentes com aquele gosto de veneno escorrido das serpentes tem
dias que as serpentes me chegam com gosto de lua cheia
a mulher dos sonhos me deixou de quatro a ver
navios com pavio aceso essa palavra incendeia os poros pelos orifícios esse meu
ofício de perfurar na carne o que não cabe in-verso nem por um segundo nem por
um milímetro nesse acampamento logo depois da febre como marimbondo provo o teu
veneno
quem me vê
assim
tão comportado
não sabe
o que se passa
aqui no centro
não sabe do vulcão
em erupção
nesse serTão
do mato dentro
a traição das metáforas
para juliana stefani
dandara ainda mora naquela beira de estrada com seu vestido amarelo no rio grande do sul mesmo que não esteja ainda a vejo atravessando a calçada saindo do carro azul abrindo o portão da casa de 7 portas douradas com mil garrafas de vinho psicografadas na sala por algum poeta dos pampas que escreveu por aquelas rampas o que testemunhou nos vinhedos quando italianos chegaram nas serras dos meus segredos
origem
sou afro-tupi guarani goitacá que subiu o paraíba para o litoral paulista nasci na
cacomanga bicho do mato curupira carrapato sou campista não tiro onda de turista sou retalhos imortais do serAfim comigo é assim : nem fiado nem à vista
II
áfrica sim minha mãe de sangue cresci mamando do teu leite lambendo o sal da tua carne quente bebendo água suja no tanque sou fel pimenta azeite quem quiser que me aguente eu sou a lama do mangue
metáforas em
linhas curvas
quando manhã
canta e não chove lucia me fala das coxas de yve mergulhadas no pontal até a
última sílaba do poema letras salgadas de mar embora mesmo que agora chova e a
noite seja um relâmpago de estrelas sinto que nos falta um vagalume para
alumiar a escuridão tantas vezes lamparina acesa no bar de neivaldo foram
lâmpadas florescentes entre olhos famintos de luz no verão de 2010
minha escrita
grita
muitas vezes
invento
palavras soltas ao vento
a flor dos meus delírios
tem cheiro de poesia relâmpagos de iansã incêndio no meio dia netuno em
polvorosa me disse em verso e prosa que ela vem com o frescor da maresia e eu
serei o seu ogum anjo da guarda e companhia hoje mesmo distante essa preamar me
incendeia ondas espumas explodem na areia tempestades trovoadas ventania e nem
sei se estando perto calmaria
estação 353
para cecília in memória
eu planto
minha estação existe
a adubagem orgânica está completa
não sou negacionista nem sou triste
sou poeta
irmão das coisas da alegria
eu sinto o gozo no tormento
atravesso noites e dias - invento
eu sei que planto
e o sistema é bruto
mas a terra gira como pomba gira
amora minha eterna namorada
e amanhã eu sei colherei teus frutos
nessa minha estação amada
hoje me surgiu esta ideia:
estava lendo antonio cícero
e antonio carlos secchin
e ai pensei - ler ler ler ler re-ler
não escrever - parece-me brincadeira
aprendizado para vida inteira
do mim dentro de mim
o Eu dentro do Eu
o Não dentro do Sim
metáfora 1
suspenso no ar às vezes penso se devo pensar tanto como um poema de
mayakówski ela um dia virá ao meu encontro e ressuscitará o poema que ontem não
nasceu a vida não é só flores ela me disse clarice em cada coisa tem o instante
em que ela é as vezes também penso ela não virá aí vou para praça jogar milho
aos pombos ao jardim zoológico dar comida aos patos os meus sapatos já conhecem
os anos de espera na última primavera os lírios não nasceram e as rosas eram só
espinhos com minha língua na faca cortei a fala ainda na garganta e fui pra
sala afiar o taco ela não sabe que o vinho que guardei pra ela é de uma safra especial de bacco
a menina da lanchonete hoje rói as unhas de ira pira quando quero o que ela pensa que é apenas bolero na praça são salvador com esse poema torto que te leva ao desconforto de pensar o que não sinto como ela vive sozinha entre pastéis e empadas sua vida é hora marcada de entrada e de saída não conhece uma outra vida por isso me olha estranha com uma sede faminta de comer meus olhos com palavras – quando te digo : não minta
hipotemusa 1
a menina da
lanchonete
em frente a
floricultura
são salvador
mexe na flor
dos cabelos
dedos entre
pelos
enquanto
aguço os olhos
pensando mar
de abrolhos
na terceira
margem do rio
leio um
poema no cio
grafitado em isopor
não sendo assim
que seja como for
hipotemusa 2
ela bagunça
meus 7 sentidos
aguça
lambuza
planta um
punhado de brócolis
no pé do meu
ouvido
me dá de
beber mastruz com leite
de comer
esphirra koreana
lhe chamo de
sacana
ela me diz
que é bacana
me fazer de
pé de moleque
pra lamber
meus sustenidos
hipotemusa 3
ela agora usa piercing no nariz
sem medo de ser feliz
joga capoeira no mercado
aprendeu dançar suing
não dá mole pra racista
nem pra patrão
que escraviza empregado
hipotemusa 4
essa garota
me alucina não sabe ficar quieta com santa teresa no parque das ruínas tem mais de mil desejos um deles é
quebrar meus óculos com sua fome de beijos tem mais de mil ofícios um deles é mapear o litoral das minhas costas pelas praias de são francisco essa garota é bárbara afrodite
artemanha de iansã me banha com sua língua de vênus as terças-feiras de manhã
hipotemusa 5
quero botar no seu orkut um
negócio sem vergonha um poema descarado já chegando fevereiro e meu rio de janeiro
fica lindo mascarado
quero botar no seu e-mail um
negócio por inteiro eu não sou zeca baleiro pra ficar cantando a mama que ainda
tem medo do papa
meu negócio é só com a mina que me trampa quando trapa meu negócio
é só com a mina que me canta ouvindo rappa
hipotemusa 6
vou encontrá-la no rio psiu poético
sentidos todos plural um tanto cético nessa ponte para o nada - duvido que não
exista alguma esperança nos olhos de uma criança disse-me a hipotemusa no
amarelinho da lapa antes de atravessarmos para o ccjf com alguma poesia na
manga do lado esquerdo do pulso rasgar o verbo da fome e entregar à cara
a tapa
hipotemusa 7
hoje acordei
com uma vontade da porra de trepar na goiabeira talvez assim quem sabe ela me
chame de jesus e tire ele da cruz
ou
quem sabe bacurau ou quem sabe bacuri para acabar com carkamanos
ou
então até quem sabe ela me chame de exu cabra da peste do nordeste koreano
hipotemusa 8
pode ser que
ela nem saiba o quanto o tanto o torto pode ser que ela me queira bem debaixo do vestido e me chegue como sempre me rasgando a roupa me lambendo a boca sem vergonha alguma e me pegue bem assim descabelado displicente distraído pra querer mais uma poesia pra entortar 7 sentidos
hipotemusa 9
ela me deu um beijo na boca e me disse carne seca me interessa assada na brasa como sua língua quente salivando entre meus dentes enquanto conto peixinhos na baia da guanabara na hora do gozo pode cuspir na minha cara essa gosma de lesma na calçada pedra faca trinca ferro na janela casa mal assombrada cosme velho coisinha de sal e o bruxo ainda escreve dentro dela
hipotemusa
10
quando alvoroçar os teus cabelos
quero outras coisas alvoroçadas
poros pelos entradas
maria padilha
pomba gira cigana
presente na trilha
de qualquer oxossi caçador
beatriz sua filha de santo
foi quem vi no espelho
da minha mesa de búzios
quando joguei para xangô
hipotemusa
11
fulinaimânica sagarínica
algumas vezes muito prosa
tantas vezes muito cínica
hipotemusa
12
foi em são carlos a última vez que fui encontrei alzira pira da pira de piracicaba incendiou minha carne devorou meu esqueleto o lance só acaba quando mergulhamos em são josé do rio preto era uma japinha que conheci em batatais depois da prova dos 9 deu adeus e nunca mais
hipotemusa
13
como ninfa estrangeira ontem me veio envolta de plumas em estado de poesia na baia da guanabara estudava antropologia pelas marinas do rio no sexo sempre quentinha feito uma gata selvagem gozando a vida no cio vestida em pele de algas despida nos desvarios lambeu o mel entre as coxas desapareceu no navio
hipotemusa
13
como ninfa estrangeira ontem me veio envolta de plumas em estado de
poesia na baia da guanabara estudava antropologia pelas marinas do rio no sexo
sempre quentinha feito uma gata selvagem gozando a vida no cio vestida em pele
de algas despida nos desvarios lambeu o mel entre as coxas desapareceu no navio
hipotemusa
14
nem bem
havia anoitecido no parque das ruínas teus olhos de lamparina tocaram a pedra
do reino nas águas da guanabara coisa rara aquele peixe brilhante dentro
daquela boca com seios de primavera e vinhos da santa ceia em tua língua muito
louca
jura
secreta 101
as orquídeas ainda são azuis
girassóis relâmpagos na chuva
na surpresa dentro a tempestade
dessa manhã que finda
pimenta tua boca em chamas
incendeia meus lençóis profana
essa linguagem como arco-íris
como fosse pulsação que arde
nas entranhas dessa luz de fogo
nos meus dentes mastigando a tarde
anoitece
quem nunca leu sagaranagens
não pode dizer que me conhece
hoje na michigan vi o cara de bunda pra lua tirando cocô de
cachorro na calçada torta tonto na califórnia cachorros moram em apartamentos
bem diferente lá no engenho de dentro os cães uivam na ferrovia não são lobos
mas parecia o outro cara dando marretadas na laje na esquina da santo amaro
estação corpo belo universo paralelo vida louca vida irina sorria enquanto
beijava o sorvete trepada na padaria na outra esquina do dia rúbia querubim
quase entuba enquanto volto pra munduba setenta e um guiado por federika a flor
delírio de oxum
quando nasci torquato neto
veio ler a minha mão
tinha chegado de teresina
com uma garrafa de cajuína
e um livro na outra mão
e eis o que o anjo me disse
apertando a minha mão
com um poema entre os dentes
:
vá bicho!
não tenha medo do inferno
seja um poeta moderno
cheire as flores do mal
que a poesia de Baudelaire
vai te salvar no final
minha irina toda via
é travessa e
atravessada
em
transversas travessias
trepa sempre
nas esquinas
contra o
poder da tirania
no princípio era fábula depois veio o verbo logo depois a ficção e aí começou a invenção bem depois das sagaranagens antes fulinaimargens depois das fulinaimânicas atrás das fulinaímicas nem circo nem tarde de mímica apenas alguma paisagem na janela da viagem quando lia o lado b me transmutando em alquimia
a selva de concreto fala pelos seus poros ela veio de outra mata virgem agora devorada pelos dentes da cidade irina evapora não chora mamãe não chora a vida é assim mesmo inda não fui embora
onde tudo
é carnaval
minha madrinha se chamava cecília nunca soube
onde minha mãe a conheceu por muitos anos morou na rua sacramento ao lado do
colégio estadual nilo peçanha primeiro endereço que conheci nesta cidade antes
de estudar no grupo escolar xv de novembro de onde muitas vezes assisti
desfilar a mocidade louca ao lado do meu padrinho benedito que inventou deixa
que eu chuto meu guardião absoluto
entre muros e paredes do presídio federal de
brazilírica macabea foi jantada pelo pastor de andrade no carnaval da mocidade tem
memórias por lá adormecidas que ninguém ousa contar a hipocrisia varreu daquele território a rebeldia marca
registrada de um tempo que não podemos apagar trago nas nervuras entre a carne e os ossos marcas de explosões da
caldeira na tipografia das letras onde tentaram me domesticar
mas sou vampiro goytacá
endiabrado serAfim
sou
canibal tupiniquim
meus 7
sentidos
fulinaíma me veio no vento um
instrumento invento para acrescentar a minha escrita para escancarar a minha
fala percorria a bandeirantes quando me dirigia para campinas com
oficina de artifícios e não sei em que ofício a pedra do rock rola a pedra do
vento voa depois de um instante qualquer que seja o estalo nos meus 7 sentidos
já perdi a conta do tanto faz então pra mim tanto fez o faz de contas que me
quiseram impor sem ao menos saber se quero o tempo ajusto as pedras que rolam
meu calcanhar é testemunha em toda veracidade verdade deve ser dita em qualquer
tralha da cidade porque bem sei por quantas
trilhas já trilhei para chegar até aqui
afora em mim grafitemas nenhuma figuralidade frutas legumes verduras quem cala a fala consente houve um tempo que a dita/dura calou a fala da gente grafito em tua carne de pedra medusa de sete patas poema de sete cabeças miragens do amor que enlouqueça apóstolos na santa ceia miró brincando de circo com os olhos na lua cheia
jura secreta 102
a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta
a ninfa que me ímã quando arquiteta
o salto da abelha quando mel em flor
pulsa pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que te veste é nada
éter pluma seda pelo
quando custa estar em arcozelo
desatar a lã dos fios do novelo
no sol de amsterdã desvendar hollandas
e os mistérios da palavra por entre o nó dos cotovelos
meus dedos esticados
como cordas de pianos
roçam teus olhos azuis
eu tenho planos
de te tocar com blues
o poeta é um
fingidor
chove aqui dentro
mais do que lá fora
eu tenho pressa
de olhar teus olhos
nesse mar de angra
o pau brasil ainda sangra
enquanto isso
ela passeia no egito
entre templos sagrados
dessas múmias quânticas
me perdoa
o poeta é um fingidor
mas eu não sou fernando pessoa
qual lamparina me ilumina
e por onde andará macunaíma?
sombras na parede as vezes me
invocam falas delírios outros nem precisa tapa na pantera muitas vezes uma doze
de conhac basta como quando editávamos o curta tropicalirismo jiddu me colocou
na mala da fama foquei lá e até hoje não achei outro endereço minha cama tem
colchão de palha e a tua tem lençóis que não conheço
quem diria
filho de lavrador
e mãe analfabeta
um dia no brasil
ser chamado de poeta
ainda
existe uma mulher
que me distorce o crâneo
me disseca e me atraca
quando chego ao cais
com
esse barco em movimento
essa carcaça de lâminas e ossos
um mulher que me estica o plumo
e
me satisfaz
me
enrola em desenredos
e me deixa arame farpado
a ponto de me sangrar os dedos
vampiro lobisomem
tenho
frequentado os telhados junto aos fantasmas da planície visitado os territórios
lamacentos da cidade em cambaíba por exemplo espreito os fornos crematórios de
um passado inda recente voltei aos braços dos desamparados indigentes da contra
mão os que foram trucidados por gritarem contra ditadura escravidão
do som dessa palavra
nasce uma outra palavra
fulinaimicamente
no improviso do repente
do som dessa palavra
nasce uma outra palavra
fulinaimicamente
muitas vezes
descrevo minha musa
num poema menos lírico
mais intenso
mais irônico menos penso
muitas vezes
quero estar em alfa
mas estando em beta
a massa do abstrato
na argamassa do concreto
minha musa é linha curva
não poema em linha reta
teatro do absurdo
no próximo dia
seis vou
me despir de vez rasgar os p(l)anos
no próximo dia seis no parque desengano plantar amoras pedra bonita –
metáforas para os olhos de quem não vê
isa bela acha bonito tudo aquilo que não falo no próximo dia seis desmontar o circo no universo paralelo
montar pirandello beckett ionesco artaud fernando
arrabal no próximo dia seis vou me despir pro carnaval
resumo
ela tinha as mãos tão suaves que tocavam-se como quem tem a
pele sob a chuva de setembro eu procurava colher maçãs no horto de santa maria
madalena olhava a montanha e lembrava-me de selvagem que fui aos olhos dela
enquanto ainda vivia na tapera o meu cavalo deixava na porta da cidade escrevi
sobre isso no poema quando o tempo rasgou meu corpo na calçada e trouxe-me
folhas de papel em branco.
irina agora também é modelo dessas pinturas clássicas que a gente não sabe qual foi o pincel usado pelo pintor
a
travessia vou fazendo
no
inverso
entre
os lábios da tua boca
e
as letras do teu inverso
além de tudo meu olho foca
meu olho toca meu olho vê
tudo aquilo que você não lê
quieta aqui nessa solidão capixaba quantas vezes me vem em sonhos ou alucinações contemporâneas tudo o que não fui eu não era a bruna beber muito menos débora seco mas ele gostava até queria que fosse assim como biúte me chamava de vários nomes ao mesmo tempo aquela profusão de palavras como inseto em volta da lâmpada e os cálices nos lençóis de algodão as vezes linho para atiçar nossa luxúria com a contribuição da enel que nos deixava quase sempre no escuro na guarapari do espírito santo uma noite ele passou o tempo todo lendo pagu no meu ouvido e macabea não se conforma por ter sido deixada de lado nas artes cínicas do presídio federal de brazilírica trafega com seus fantasmas pelos corredores falando para o vento que entra pelos buracos das fechaduras
nasci no dia nacional do samba
talvez por isso aos 15 entrei para mocidade independente de padre olivácio – a
escola de samba oculta no inconsciente coletivo instituição criada pelo
intrépido artur gomes uma filial da igreja universal do reino de zeus pastor de
andrade o antropófago não anda muito satisfeito com meu comportamento a frente
da bateria da escola mas como sou capixaba e não amo capixaba e a única coisa
de capixaba que gosto é a torta e o quibe de peixe amor com capixaba não faço
já disse isso milhão de vezes mas faço amor não faço guerra e quem quiser que
me queira por essa terra inteira
não conheço
mas é como
se conhecesse
disse-me ontem
a psicóloga
antes que
amanhecesse
depois de uma noite
de trégua
depois de passar a régua
na direção dos caminhos
os olhos da janela
me espreitam
enquanto devoro
este poema
salgado
de sol
sede
eu tenho sede de água
eu tenho sede de mar
girassol nos meus cabelos
espuma de sal esperma e pelos
por onde eu possa delirar
eu tenho sede de sexo
em noites claras de luar
se eu não beber teus olhos
não serei eu nem mais ninguém
quando beijar teus lábios
desço garganta mais além
quando tocar teu íntimo
onde o desejo é mais intenso
jura secreta não penso
bebo em teus seios também
a flor da tua pele
me provoca
me toca
e não sei o que fazer
me perco nas esquinas
do teu corpo
em noites de lua nova
como uma prova de física
que eu nunca soube resolver
espírito santo
guarapari aqui estou
aqui me encontro
em estado de espírito santo
nesse mar azul e branco
como as cores da portela
o rio já passou em minha vida
nas marés de um serafim
mar é o que me fica
como o deus que me habita
sem princípio meio ou fim
musa
que é musa
não tem vergonha de nada
escancara a cara no espelho
se desnuda pra fotografia
teu corpo camisa de vênus
a flor da pele irradia
rasgando a camisa de força
tua carne só poesia
mulher de nuvens
para micaela albertini
fosse eu uma mulher de nuvens
não estaria aqui presa
a este mar nas marés suor ou cio
passaria com o vento
sem deixar rastros vestígios
pegadas
voaria sobre estradas
sem destino cais ou porto
viajar mesmo sem nenhum conforto
ou calmaria nas partidas
ventania nas chegadas
o
belo me excita quando vem assim seminua não importa o sexo gênero cor na imagem
que me traga essa leveza de estar como pluma levitando sobre o poder da
gravidade não importa o nome ou o tipo de sangue que circula pelas veias nem o
sal do suor escorrendo pela pele enquanto aqui teço homenagem ao eros que me
come
metáfora por
metáfora
se
ele pensa também penso mas não compenso
carência de ninguém e vou além do outro
lado do cerne tudo o que está dentro ou fora do corpo o que vai e vem na hora do
sexo se não me agrada meto a faca corto metáfora por metáfora o músculo/pênis que não me deflora
serAfim 3 - federico baudelaire o mestre sala dos mares
meu abraço pra brasilha a minha
ilha de creta a catedral dos desamores
essa estranha cidade secreta onde o
fascismo e seus louvores um belo dia se instalou vai ser preciso muito amor vai
ser preciso muito sexo vai ser preciso muita luta chutar o balde convidar as
putas para cantar em alvoradas muitas vezes no congresso muitas vezes na papuda
quem sabe um dia a coisa muda quem sabe um dia essa pátria se desnuda e se
solte então dessa corrente com as mãos jorrando outras
sementes no carnaval de salvador
irina serafina
nem minha
nem tua
toda dela semi-nua
escrevo
como quem
pesca uma piaba
no rio ururai
vou por aí
de itabirina
a iriri
se não cansar
cato conchinhas
de anchieta
a quipari
você ainda não conhece tudo que um dia bem-te-vi no pontal de atafona no portal do imalaia ou na lagoa grussaí
você está se aproveitando da nossa situação e está de olho na minha mulher não vai colar porque gigi federika lady rúbia eugênia agora é minha quem mora com ela em iriri do espírito santo sou eu pode tirar seu cavalinho da chuva seu tempo de guarapari passou se não é capixaba que se dane quero mais que o quiabo voz carregue porque sua banda de reggae aqui não toca aqui não é freguesia do ó e você nem conhece quibe de peixe pra ficar jogando isca no meu quintal de areia sua sereia já morreu faz tempo o templo agora é outro pastor de andrade me deu a chave de entrada da cancela principal gado aqui não entra e o bom cabrito vai berrar do lado de fora dos telhados assombradado ficou ali na outra esquina no casarão dos fariseus essas coxas de meninas que vai lamber sou eu
só quem sabe do riscado
entende o seu ofício
procura palavra nua
toda viva toda crua
o resto que se foda
quero toda palavra toda
toda bruta toda puta
na artimanha do concreto
no abstrato do ereto
*
para
rúbia querubim
a pétala da flor deságua sobre a flor da tua pele nas águas salgadas desse mar nas correntezas desse rio eu bebo tudo que revele cada gota dessa água na leveza do teu cio sob os lençóis da tua cama acenderei os teus pavios
alfândega
em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam mayara cigana
que me deixou no desconforto
A
travessia
no inverso do meu tempo sem
lenço sem documento janelas
abertas ao vento
o poema freudelérico
não tem nada de pessoa
na vitrola rola um demônios da garoa
e o poema mete a língua
no avesso da linguagem
rasga
os tecidos da mortalha
assombrado
com o verbo desemprego
afia
ainda mais a carnavalha
com
sua faca de dois gumes
no
descompasso do desassossego
bolivariando 2
eu sempre andei no encalço dos olhos de carolina na fantasia dos meus passos
tem confete/serpentina onde o profano e o sagrado em puerto viejo cavajarro se encontram em outro tom a
cigana boliviana com seus olhos de pimenta com suas pimentas nos olhos me levou para lá da sierra de santa cruz da bolívia onde se masca folhas de coca antes do coito das cinco sem chá sem torrada e
cerveja muito menos o sexo ali é na porrada(verdade não invento) com fogos de artifícios botando fogo em carnaval
no serTão do mato dentro
poética 43
a percepção acho que é um dom uma
descoberta um pássaro que pousa em nossa cabeça e nos atira aos fios elétricos
do corpo liberdade vem de dentro do motor dos músculos os ponteiros
que só se movem quando querem o repouso absoluto é uma forma de silêncio não
vejo muita graça em ser sozinho solidão as vezes faz bem noutras assusta mas
se tenho um amor que ainda não me diz abertamente do diamante que mora dentro
dele toco - a música dela tem itálias e palavrões as vezes quando me pergunto
onde vou nem sempre tenho respostas aliás respostas é o que menos tenho
encontrado para as 25 mil perguntas paradas no ar o rascunho dos meus
primeiros dias ficou esquecido numa tipografia do tempo emoldurado na tinta que
mudou de cor
poétttica
imburi – essa palavra estranha
só existe em são francisco
e me arrisco
a pensar que seja engano
o biscoito de polvilho
farinha branca no trilho
morreu mais um – menos nada
a tapioca na telha
e o sol sumiu na estrada
pedra dourada
amo a pedra
onde ela mora
estive lá
já vim embora
assim sozinho
mas é como se essa pedra
estivesse ainda em meu caminho
pérola dourada
houve
um tempo numa primavera passada conheci pérola dourada numa pedra onde o tempo agora é saudade por
toda pele grafia na minha íris/retina trouxe a pérola dourada na menina dos meus olhos olhando os olhos da menina em cada pedra que havia
no hotel amazonas - galvez o imperador do acre hospedou-se em sua passagem por campos dos goytacazes em direção a vitória do espírito santo e deixou por aqui o vampiro goytacá que mora neste hotel até hoje e passa as madrugadas na janela do quarto olhando o pátio interno tentando reencontrar o seu amor nina aroeira vestida de benta pereira nos cavalos do imperador muitas vezes vi lágrimas descendo dos seus olhos e as mãos apontadas para o telhado do outro lado do corredor enquanto rezava para santo antônio se espantou com alguns passos nos corredores da linda flor florlisbella dos passos então conquistou
um dia desses
quero ser sérgio sampaio
porque hoje tô de bode
na cabeça um para raio
tô comigo ninguém pode
soltando bichos no porão
tô faísca tô kabrunco
tô um relâmpago lamparão
a vida não basta
se me bastasse seria outra
clarice quem sabe
beatriz que fosse
fruta que gosto de comer
antropofagia canibal
pronta pro bacanal
filha que sou deste país
de fevereiro
onde todo ano é carnaval
e a vida do meu pai
se foi em sangue
uma bala no estômago
e uma manchete de jornal
por mais paradoxal
voragem
para ferreira gullar - in memória
não sou casta
e sei o quanto custa
me jogar as quantas
quando vejo tantas
que não tem coragem
presa a covardia
eu sou voragem
dentro da noite veloz
e na vertigem do dia
acho que meus queridos estão todos pirados
esses últimos anos de pandemia deve ter afetado as ondas elétricas dos
múltiplos cerebelos os fios dos cabelos enferrujados de sal e maresia lá nos
anos 90 uilcon serafim me alertava sobre essa onda magnética que se espalharia
pelo planeta nos currais nos palácios nas bodegas ademar cardoso também em
jardel ricardo pereira lima márcio coelho gabriel de lapuente antes até dos 80
no by brazil do black river de registro a batatais enquanto dalila do abc
continua pilotando os alpharrábios zhôo muito zen pensava que tudo seria nuvem
passageira enquanto césar conversando com raul já me dizia que a lucidez mora
ali do outro lado esquerdo de assombradado enquanto rubens jardim só quer
saber das mulheres com poesia cada uma em seu quadrado
geleia é um personagem misterioso meio dionisíaco que vivia nos porões do studio 52 lá pelos idos de 1987 nem sei quando onde como nasceu vivia aprontando com o seu projeto de psicanálise popular com um divã em cada esquina na primeira festa das bacantes nos altos da catedral quando pensávamos ser eunuco devorou a santíssima trindade dela hoje só resta rúbia querubim e um sacrossanto serafim que despachou federika para os corais do recife nas marés de pernambuco
vez em
quando geleia passeia pela igreja universal do reino de zeus para tirar um
sarro com seu pastor de andrade na missa pagã do sétimo dia coloca os dedos e
a hóstia na língua das ovelhinhas para a
encenação do ciúme nos olhos da sacristia em tudo que é sagrado pra ele não tem segredo os cinismos da hipocrisia em suas juras secretas decreta estado de sítio em
estado de poesia
com o amor trincando os dentes
parece até que eu não sabia
que ela fugiria da raia
golpe com rabo de arraia
deixa qualquer uma tonta
ela não estava pronta
se encontrava semi nua
sem coragem de despir o resto
sem coragem de encarar a cama
amarrou-se nas correntes
sem coragem de escancarar a porta
fechou-se então nas janelas
com o amor trincando os dentes
anti/lírica
um poema bashô aqui
nas 7 paredes do corpo
nos 4 cantos da casa
instigante satírico sarcástico
e ao mesmo tempo
esse ácido lirismo
é como um anjo
de belas brancas asas
que me toma arrasta domina arrasa
poética 86
teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?
derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca
rasga essa mortalha
que te mata
penso em vão não
escrever certa vez comecei um poema com vírgula as curvas dos seios no branco
do papel o caminho entre tecidos sob a pele para o túnel onde não passam
automóveis a vírgula não é ponto apenas um sinal no início do poema que não
precisa ter ponto final apenas curvas em direção a outras curvas para encontrar
as outras vírgulas no início do poema
diante do espelho
sou
e sempre serei outra
agora o que não sou
fica do outro lado de fora
a lâmina acesa a brasa
o sal do suor do cio
o mar entre minhas coxas
e mangue entre minhas pernas
os caranguejos que me invadem
sempre que me olham
hoje vou comer coxinhas na santa ceia paulistana vou comer fiado vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo a perder de vista na pia no banheiro no telhado na
cozinha coxinha se come aos montes nas ruas nas praças nos palácios nas garagens coxinha é massa de manobra amassada com trigo com farinha
carne que se presta pra usar comer e jogar na lata de lixo
coxinha não é gente
coxinha é pior que bicho
linguagem
abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes
toda nudez não será
castigada
estou nua em pelo
disfarçando o pesadelo
para olhar do alto
o palácio do assalto
e seus metralhas
minha língua é faca
não é palha
é palavra pronta
pra cortar a carne
como fio de navalha
onde houver canalha
toco fogo dentro
pecadora confesso
estando toda no cio
no corpo querendo tudo
minha mãe que me descreve
já me conhece do parto
eu sou vadia e não te iludo
eu tenho as veia abertas
um furacão entre as coxas
um vulcão no ventre/útero
mas só um homem me come
desde a minha tenra idade
nas ostras cravei meu nome
eu sou gigi mocidade
a tentação sou eu
deito pra lua
só ela p(h)ode como eu quero
penetrar-me com sua luz de fogo
me deleitar com seu leite
eu quero a lua cheia
que me entre o mar das cochas
e me engravide com seu manto
e que não fique algum quebranto
o mal olhado o olho gordo
que me lave com seu líquido
e me leve até são jorge
montado em seu cavalo branco
o rei está Nu
a rainha
também
o palácio dava para
os fundos
do submundo
onde morava
a loucura tântrica
em suas garras semânticas
como física quântica
ela gozava solitária
no anoitecer de todo dia
desconcerto
o poeta é um jogador
joga com palavras
letra por letra
sílaba por sílaba
com nomes sobrenomes
universo das coisas
artifício das cores
tira um sarro com metáforas
desconcerta a lírica
a métrica a fonética
e os significados
onde não tem sentido
enfeitiça o sub-mundo
enaltece o desdentado
espelho
flechas que sangraram oxóssi
em meu peito quebro
espelho do outro lado
da rua mato a fera
ogum me deu a lança
tua fúria não me alcança
não ando só yansã
me leva em sua ventania
trovão estampido coice elétrico
tenho o reflexo do fluxo
do sangue que me embala
bala na veia tiro de letra
não tenho trava não tenho treta
branca ou preta eu traço o tempo
ao sabor do vento que vem
ao sabor do vento que vai
onda do mar eu tenho o sal
e quero sol a solidão não pega
de surpresa nunca fui presa
fácil pra tua armadilha
eu tenho a trilha que os teus pés
jamais irão pisar
não tenho certeza que isto é
um país ando por recife entre pedras como quem vomita um planalto dentro do
palácio grafito a porra no muro tenho vontade de explodir este barril de
pólvora esta é a palavra que não basta eu trovoada relâmpago ventania temporal
elevada a múltipla potencialidade dessa
miséria quântica
nessa imoral brasilidade
o dia que eu
estiver vestida
não me toque
deixe que eu troque
o sentido para o truque
na armadura de ogum
a trama pro desejo
que não dou a qualquer um
desassossego
o meu amor não tem sossego
morde lambe chupa come
teu corpo que ainda não conheço
tua carne - nem se quer tem endereço
o meu amor não tem apego
agarra larga prende solta
atira ampara - é cachoeira
escorre como trovoada
iansã em tempestade
o meu amor é livre e limpo
quando a alma está lavada
desejo sexo amor
paixão
fantasia
aos olhos de wermmer
tudo é possível crer
até em quem não cria
diante do espelho fico zen
chamo zeca baleiro de meu bem
canto a mama canto o papa
canto o negão do rappa
canto até quem não conheço
e não preciso de endereço
pra mandar cartão postal
canto a mina da esquina
que se chama lys cabral
lys não a de fando nem do bando do
rancho da carmélia passeava certa noite em itapoã de bunda pra
lua ouviu o canto da sereia se despiu de toda amélia foi me procurar na federal na ciranda do boi
cósmico não ouviu seu pai de santo queria me dar por todo canto até mesmo na plateia mas voltou pro
morro de são paulo para espanto da geleia
translúcida
levanta natureza morta
você não é cubism0 de picasso nem surrealismo de
dali diante os cabelos de aço de frida
calo muitas
vezes vejo muitas coisas ao mesmo tempo
na fotografia dou um corte no pensamento
para que o vento me traga o norte levanta
pássaro sem sorte o passo em falso
o cadafalso predestinada a sina
em sua morte
subversiva 1 - 15 – outubro - 2022
eu não sou santa nem casta a vida é bruta e
não me basta vou a
luta uma quadrilha
de filhos da puta tomou o congresso de assalto
o lugar deles é a lata de lixo de onde nunca deveriam ter saído vamos enxotar essa putada varrer do mapa esses canalhas nem que seja a golpe de gilete a fios de navalhas se é esse o jeito ou única saída subverter
a ordem o voto acelerar o ritmo da
libertação a arte é arma e não temos tempo de
temer a morte arte é intervenção da massa
armemos o povo para o povo entender e aprender a
ocupar - democracia é palavra gasta - ferreia gullar já nos dizia “a arte existe porque
a vida não basta” - se a massa está
inerte renascer oswald para fermentá-la
vamos fomentá-la com fermento dos biscoitos finos antes
do anoitecer - “quem sabe
faz a hora não espera acontecer”
- vamos a hora é essa eu tenho pressa não
temos tempo pra espera o trem das onze
está partindo e quem perder já era
a cara a tapa
tenho minha arma na língua
não nas coxas
veneno na saliva
só a cara é de anjo
o sal da ilha de creta
a pedra da boa viagem
tenho na bagagem
faca estilete canivete
afiada malandragem carnavalha
de moleque para raspar pentelhos
rasgar bandeiras dessas cara/velas
da milenar tropicanalha
mitológica
fosse afrodite ou fosse vênus
mariana fosse quanto
a flor sagrada de lótus
secreto o espírito santo
os girassóis entre os cabelos
nos lábios lírios do campo
carnívora
o amor é feito de corpos
o amor é feito de membros
o amor é feito de meses
janeiro fevereiro março
todos os dias acordo e me lembro
o amor é feito de abril
maio junho julho
o amor é feito de agosto
setembro outubro novembro
o amor é feito dezembro
o amor é feito de anos
o amor é feito de agora
horas minutos segundos
é razão de estar no mundo
o amor se faz toda hora
serAfim 6 - artur kabrunco garrutio lamparão
operação de risco
aqui assumo o kabrunco como sobrenome de um desses
12 apóstolos de zeus nessa profana e canibalesca santa ceia para
provocar os lobisomens assombrados espalhados pelos telhados dos laranjais de são francisco
arte manha
depois de ler o mapa da tribo como um tigre incendiado me visto agora com a flor da pele de salgado maranhão nem sei se wally sabia dessa arte manha Salomão não posso dizer o que o poema espreita
nestas tardes de brazilha o sol o céu em
quantas bocas tudo que é meu está
guardado em tudo o que eu criei e o que ainda está pra ser criado e depois do que for re inventado na cor da pele um serAfim
res-guardarei como uma onça em
pantanal quem sabe até flor do cerrado mandacaru brotando em mim
talvez não tenha lógica o que
escrevo minha escrita grita do inconsciente coletivo vivo re-par-ti-do em três
em quatro em cinco em seis em sete quem não conhece não se mete
em tudo aquilo que excita
salve meus erês meus eguns meus xangôs e meus exus salve meus
oguns meus oxossis omulus salve iemanjás oxuns e iansãs todas as manhãs que
ainda ardem minhas mordidas nas maçãs das coxas de nanãs
irreverência ou morte disse
gigi mocidade pra federico baudelaire homem com flor na boca mestre/sala dos mares
mocidade independente de padre olivácio escola
de samba oculta no inconsciente coletivo não fujo
do perigo no asfalto o beijo sujo é preciso estar
atento e forte não temos tempo de temer a morte disse-me
caetano
na
canção tropicalista o genocida anda solto não
podemos
nos
perder de vista
tenho andado vermelho de sangue caranguejos explodem no mangue boca da barra guaxindiba gargaú balas pipocas nos becos na corda bamba do hemisfério sul tenho andado nas tralhas das trilhas vendo fantasmas nos telhados e o caroço desse angu nas entrelinhas dos tratados com cascavel surucucu quem foi que
disse que essa terra é santa ? quem foi que
disse que isso aqui é ilha? só pode ser
filha da outra a que pariu o boi zebu
linguagem
o que vai
de um lado da ponte
a outra
é o que sai da boca
o que entra é a língua
a que entorta
beija sem pedir licença
chupa morde goza
na entrada e na saída
sem ter adeus na despedida
a traição das metáforas
durante a viagem olhava a paisagem através da
janela árvores montanhas casas abandonadas gado bovino ferro velho onde foi que
não estive neste país mal assombrado tenho a leve sensação que o outono nunca
vai chegar o patriarca nem vem vindo e um morcego continua na porta principal
na entrada da cidade minha avó xingava quando fugia do curral e minha mãe nunca
mais me esperou desde o dia em que me fui embora e o 02 não é apenas um
traficante de joias no lado b da nossa história
a paisagem vista durante a viagem na janela mexeu com as
minhas unhas sujas de lorca nem era nova granada de espanha nem canção de
milton nascimento ouvia caetano cantando - " o haiti é aqui' - com sua língua pontiaguda e pensava o dia
que o genocida vai me olhar com seus olhos ensandecidos detrás das grades na
papuda
se eu não fosse macunaíma
fulinaíma também não seria
por qualquer coisa que fosse
poeta não caberia
mesmo se filho eu fosse
de uma nossa senhora
ou de uma santa maria
afilhado de grande otelo
neto da romaria
e quando ao mundo eu viesse
em outro lugar não podia
tinha que ser cacomanga
onde EU então nasceria
poema atávico
e se a gente se amasse uma vez só a tarde ainda arde primavera tanta nesse outubro quanto de manhãs tão cinzas nesse
momento em bento gonçalves mauri menegotto
termina de lapidar mais uma pedra tem seus olhos no brilho da escultura confesso tenho andado meio triste na geografia da distância esse poema atávico tem a cor da tua pele a carne sob os lençóis onde meus
dedos ainda não nasceram algum deus anda me pregando peças num lance de
dados mallarmaicos comovido ainda te procuro em palavras aramaicas e a pele dos meus olhos anda perdida em teu vestido
para gigi mocidade
procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por amor qualquer
miles davis fisgou na agulha
oscar no foco de palavra
cobra de vidro sangue na fagulha
carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha
que a minha língua não tralha?
eros
tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes eros
eletrizou os nossos dedos?
escridura
esse poema absurdo
direto no ouvido do surdo
escridura nos olhos dela
ela bem sabe o que desejo
ela bem sabe o que espero
tem canivete no sangue
tem um alfinete entre dentes
a faca que corta a navalha
sangrou as tripas no ventre
o beijo quando for que seja
de língua mordendo a carne quente
algaravia
eu
sou o vento que
remove teus cabelos e
repousa em tua face a
outra face do que sente mas
não vê a
palavra que um dia escreverá
– algaravia na
películas da memória na
ficção que entender come
poesia menina come
poesia pois
não há mais metafísica no mundo do que comer poesia
come poesia menina come poesia não há mais metafísica no mundo do que comer poesia come poema menina come poema temos delicados drops de anis ou chocolate de café para festejar leila diniz temos as líricas tímidas românticas abstratas metafóricas atrevidas temos os chuviscos bomucados maria mole rapadura temos também as ácidas viscerais eróticas concretas sensuais as que não livram a cara do fascismo e dão porrada em ditadura
embriague-se
já me dizia charles baudelaire
hoje estou em estado de vinho
só venha comigo quem flor
acaso
bem-me-quer
suspenso no Ar não penso
atravesso
o portão da tua
casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde nas cinzas das
horas
no silêncio da
tarde
vou
entrando sem alarde
sem comício como o pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício
se me perguntam
respondo
:
não tenho a mínima ilusão pelo futuro dessa cidade veracidade
mas não me entrego
sou curisco kabrunco capeta
candeias
ainda tenho muitos poemas de brecht
pulsando
em minha veias
pedra
pássaro poema
era uma vez
um mangue e por onde andará macunaíma na sua carne no seu sangue na medula no
seu osso será que ainda existe algum vestígio de macunaíma na veia do seu
pescoço? na teoria dos mistérios dos impérios dos passados nas covas dos
cemitérios desse brasil desossado? macunaíma não me engana bebeu água do
paraíba nos porões dos satanazes está nos corpos incinerados na usina de
cambaíba em campos dos goytacazes macunaíma não me engana está nas carcaças
desovadas na praia de manguinhos em
são francisco do itabapoana
leandra andra como quem escapa da cilada de uma palavra acesa
e eu kabrunco acendo a lamparina para iluminar a encruzilhada ainda hoje os
dentes mordem a lavra da palavra quando
ele se despe atrás da porta para ter sua carne devorada no poema sem nenhum pudor
ou receio de problemas
cidade
veracidade
campos
189
transverso atravesso esta cidade que me atravessa em silêncio ouço
o gemido dos teus ecos por ruas avenidas e vielas sinto saudade dos terreiros
de jongo nas favelas e as lavadeiras das
pinturas aquarelas em teus aceiros fiz
meus trilhos em cada trilha dos meus traços no encontro ao ururau
no cais da lapa teu por do sol pode ser beijo ou também pode ser tapa quando olho a
catedral e seu contorno seres famintos alimentando
o desalento me solto ao vento quando
penso o infinito beijo teu rio o paraíba que me leva em teu lamento me concentro em
minha reza
carne viva da loucura
escrevo pra não morrer antes da morte me disse gigi mocidade no homem com a flor na boca transitivo ou intransitivo vivo na mais sagrada ilógica do inconsciente coletivo na semeadura dos ossos carnadura enquanto
posso palavrar o que procuro enquanto ócio vou lavrando o criativo na carne viva da loucura quando da morte
sobrevivo
inquieto procuro mais uma palavra cínica fulinaimânica sagarínica no corpo da palavra corpo o sangue no corpo da palavra polifônico sinético poema biotônico ressigni –ficar cada lugar na sua coisa cada coisa em seu lugar o ser da coisa serafim vampiro goytacá canibal tupiniquim cbf vergonha geral desastrosa overdose poética você entra com a dose eu entro com a boca depois a gente troca para o over não dormir de toca meu diário escrito em aramaico me persegue quero mais que o quiabo vos carregue uma tragédia chamada enel se alastra pelo país quando nasci meu pai me deu caju minha mãe severina cuscuz com carne seca no leite da manhã vã filosofiia lembra daquele dia dezembro mil novecentos e noventa e quatro
j medeiros deu um show trepado no
túmulo do torquato saímos do cemitério pro mercado para lamber a cajuína era
uma tarde de sol em teresina não sei se foi assim só sei do mal-me-quer nas
pétalas das flores do mal tem euGênio mallarmè sangrei a carne da rosa com duas dentadas
devorei as pétalas vermelhas de sangue abri um vinho com meu leque de vento e
ofereci aos deuses das encruzilhadas com federika bezerra - a porta bandeira da imperial tropicanalha na escola de samba da poesia
contemporânea brasileira não curto palavra morta oca prefiro minha língua torta
lambendo a saliva viva no canto da tua boca
irina é um sol
que dói no crânio
quando dentes ardem
e mordem
os beiços da tarde
não posso
permitir irina vestida de cetim de seda fina se a quero felimina vestida de
sombra e luz a carne em flocos de lua olhos de não sonhar um abajur cor de
carne nas pedras de lumiar
impossível pensar irina vestida com outras vestes este ser cabra da
peste do inconsciente coletivo
do imaginário incandescente
inútil pensar irina vestida de serpentina como fez cinzia farina em seu
poema visual era uma tarde de chuva num sonho de carnaval
naquela hora
marcada do encontro que não tivemos
muitas vezes demoro sim levo um
tempo para poder decodificar algumas informações não muito previsíveis nem
compreensíveis para massas cefálicas como as minha tenho andado em estados como
se tivesse não estado essa enel tem me furtado a paciência muito mais que os
amores não furtados acabei de ler saramago em seus instantes de lucidez furiosa
jiddu saldanha acaba de me dizer que continuo com a mesm a fúria de antes e nem
sei se isso é possível diante dessa letargia nostálgica que as vezes me abate
como uma lâmina ninja do cinema japonês li uma resenha a pouco de um cara
chamado fernando naporano lembrei-me de 1997 quando juntos no festival de
inverno de ouro preto criamos a antologia do requinte do lírico ao delicado do
erótico
impressa em papel criado com
folhas de bananeiras com a super direção do mestre dos mestres sebastião nunes
desse livro coletivo nasceu a ideia final dos retalhos imortais do serafim
iniciada em 1994 no cefet campos e em 1995 no sesc consolação-sp daí em diante
começamos a dar voz e fala para alguns
serafins que até hoje me acompanham nessa não viagem que muitas vezes tento mas
não faço assim como o encontro com
stella naquela hora marcada do encontro que não tivemos
meta metáfora no
poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
serAfim 8 - euGênio mallarmè o filho de severina conterrâneo de torquato
eu sou menino eu sou menina e não venham me dizer que lança perfume é
parafina diversidade de gêneros podes crer – não me alucina eu nasci da minha
mãe que se chama severina lá dos sertões
do nordeste nor/destino nor/destina como o sal do maranhão bumba-meu-boi não
desafina conterrâneo do torquato eu nasci em teresina
aqui
em casa
lavo pinto
bordo
o corpo
a alma
os pelos
cada um que
pinte seus
delírios
cada um que
desenrole
seus novelos
irina me disse há um poema seu debaixo das
escadas atrás de cada porta dos palácios metaforicamente fulinaíma desvenda
todos os mistérios interplanetários na invasão dos intra poderes que comandam a
invasão cibernética dos ventos e por consequência
a invasão dos corpos
itabapoana
pedra de toque
língua de rock
blues bodoque
não gaste seu silêncio atoa
um beijo nessa pedra
e a palavra voa
ouvindo música pra remédio
quando se trata de metáforas macabea invade a meta do poema afora e se esconde atrás do personagem trancada no sub-inconsciente semi-morta pra toda fauna toda flora na moralidade mata o que o corpo sente deixa a carne apodrecer ao sol da mordacidade
entre hóstias e cultos anti-bíblicos
castrada de toda e qualquer sexualidade prende o gozo na boca quando se masturba mentalmente ouvindo
música pra remédio travestida em todo
tédio
que o histerismo a
converteu
você pensa que escrevo em rua reta ou estrada
sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi
pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro
outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede
dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas
noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando
atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar
estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a
espera do beijo da esfinge que devora
irina
serafina onça branquinha brincando de ninfeta com sua língua de fogo devassa o
imoral queima boletos da sabesp na cara de tarcísio desfila na paulista com sua
bu(a)nda de metal
poética 48
era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal
como o que eu sempre quisera
como nunca antes
outra mulher me dera
tão distante teresina
me lembro da cajuína
saudade da faustina
que conheci no carnaval
da mostra visual de poesia
brasileira
tinha carlos careqa
jormmad muniz de brito
rubervam du nascimento
o verbo então carnal
argamassa no cimento
mas a carne tão macia
viva crua quase nua
acendeu a luz no apartamento
poética 38
enquanto
escavo a seiva
entre o vão das suas coxas
para desfrutar do teu cio
e santificar o nosso ócio
a
selva amazônica perde
mais 200 mil hectares de mata virgem
para as moto serras assassinas
desse venal agro negócio
ainda não sei
se baudelérico ou baudelírico
só sei que ando meio mallarmélico
completamente absurdado
com esse leite condensado
na minha língua do delírio
nunca estou
mesmo estando
onde nunca estive
mesmo tendo estado
isso me provoca sérias dúvidas
dívidas pra resgatar no fim do mês
e o preço da carne seca
está mais caro no mercado
na pele do poema
o cavalo selvagem
cavalga a pele do poema
enquanto transa na pastagem
um novo trote
a deusa do rock
berra em outro canto
enquanto na voragem da vertigem
assento a pedra de xangô
na vitória do espírito santo
naquela noite de chuva
as cores no vestido de iansã passaram despercebidas por aqui o sangue encarnado
nas matas de oxossi e o olho do dragão na ponta da espada de ogum ainda que
aline na porta da casa velha tivesse sobre a pele meus olhos presos por palavras escritas na parede as sagradas
escrituras não dissessem o quanto ali brotavam flores naquela noite de chuva um
coração estraçalhado
61
revirei sacramento pelo avesso do avesso aline
me acompanhou passo a passo pela ladeira até a casa dos fundos canários no
quintal catavam o que comer fotografamos e filmamos o que pairou no ar e não
perdoa o éter dentro o cafezal nos convidava ao êxtase aline olhou pelo espelho
da janela que dava para o outro lado da alma e levitou entre as trilhas dos
canteiros ouvindo o som que nos unia
frente ao espelho
penso o tempo que não veio o mar que se foi o amor que não ficou o mamilo dos
teus seios os olhos de um boi tudo que restou o sol a luz a cruz a dor de não
dormir o berro a barra a lua o punhal a faca a fruta no quintal a pele o tecido
a cor do teu vestido a flor no temporal a chuva o arco íris teus olhos a retina
a cera a parafina e a nossa vida de animal
a
musa do guarda chuva
a musa do guarda chuva não mora mais aqui nem desfila em
minhas performances no teatro municipal baby magrelinha se mudou para santo
andré depois da tarde de chuva era um sábado de tropicanAlices e carolina na
outra ponta do tapete todo grafado em poesia a orquestra tocou uma valsa
dançamos a distância no meio do povo antes da chegada de pirandello na voz de
mônica cardela ainda não havia o homem com a flor na boca só algum tempo depois
cacá de carvalho me apresentou na sala maria antônia numa semana da usp tenho
desejos de sampa hoje amanheci com a traição das metáforas enroladas em minha
garganta coloco o vinil na vitrola enquanto cássia eller me canta
carNAvalha em
são luis do paraitinga
certa vez foi ao carnaval de são
luis do paraitinga queria conhecer o povo caiçara ver os folguedos de
artifícios no jogo do baralho do batman com o coringa mas o dilúvio nos aterrou
na estrada só chegamos em profunda madrugada nem ás de copas muito menos ás
espadas em nossa bagagem cerveja era só o que restava no culler da federika a
mulher mais rica do bordel da boemia muito mais até que a diva a maior puta do
país no curral das éguas das planícies montanhosas na madrugada iluminada como se diz lá nas quebradas em são luis do paraitinga
pohermeto
oswaldiano
que a cia das letras ainda não publicou
pedaladas ao mar
quando invento
poema ao sabor do vento
as mambucabas quando chegaram em santa clara traziam pimentas caiçara conchas vermelhas de
ubatuba salsinhas de itacoatiara miçangas azuis de são luiz do paraitinga trilhas da serra de paranapiacaba muitas garrafas de pinga para as mesas do interventor godot não perdia tempo metia a boca na moringa pensando que era um coringa dos bailes do imperador tomava banho em guaxindiba enrolado nos trapos do enxugador
faroeste
lamparão
para
torquato neto – in memória
quando saí de casa ia dar um tiro na cara do delegado mas estava
desarmado estão me colocando em histórias dos tempos do não sei onde como se eu
durando kid comesse a filha do conde nunca comi amarela em cinema mexicano
muito menos a ruiva do faroeste americano disseram que eu tive caso de amor que
se tornou pernambucano quando encontrei o poeta no trailer do ricardinho foi me
falando de mansinho como se trampa uma batalha pra não cair na armadilha a grana palavra cilada
agora não se
fala mais
agora não se fala nada
o
homem com a flor na boca
federico pensou iracema com seus grandes vestidos folgados
como a grande ninfeta iolanda trajada em vestes de penas nos bailes do império
em luanda nas barras das saias da fama ele então grafitou grumixama palavra que
ouviu numa cena na língua da formosa dama no teatro da rua ipanema
nos bordeís de copacabana os cogumelos de santa cecília nas barras incandescentes
da cama pornofônicas palavras fonemas pitanga urucum colorau açucena com os
caldos da salsaparrilha qualquer grande
orgia é pequena
garrutio
o sobrinho do meu tio
marcou o boi com ferro em brasa
por ordens de dom diego de la
riva
e na janela da grande casa
do mosteiro de são bento
azeredo
furtado garruchava
lençóis de trigos ao vento
enquanto o boi estribuchava
com a metáfora ensanguentada
no couro cru na carne viva
do santíssimo sacramento
lamparão
lamparina acesa no trovão
relâmpagos atravessam corredores
lá fora chove canivetes e navalhas
quebradeira geral no umbral
das coisas incompletas
relampejam nos currais sacramentados
entre a desgraça e a glória
e aqui incorporados
nos porões da nossa
história
são saruê
festa no sertão é bala
bola no buraco é búlica
cabral não descobriu a pólvora
por trás de cada coisa pública
a chama do lampião na palha
fogueira sempre quero acesa
linguagem meu fuzil metralha
explosão como feijão na mesa
são saruê 1
o vento nordeste
atiça meu ser cabra da peste
assumo o risco
sou diabo sou curisco
boto a peixeira na cinta
pra pular fogueira
em noites de são joão
meu xangô xangô menino
viva o povo nordestino
nosso deus é lampião
profana
tenho apenas
esse punhal
de prata
e a lua já
não é mais cheia
poesia
sempre na veia
e aquele
beijo guardado
que ainda
não foi roubado
na noite da
santa ceia
com dois me deito
com três me levanto
com a graça de zeus
mariana de piracicaba
registro um mar de fogo
mariana um rio de piracicaba
escorre em minha cama
sob os lençóis de cananeia
nem jocasta nem medeia
na minha camisa de vênus
na tua boca de lótus
por tantos anos que não passam
nesse torpor que não me cessa
nem mesmo o chá me acalma
o teu corpo em minhas unhas
no espelho tua alma
por mais que eu queira sonhar
meu amor por tantas eras
que nem mesmo sei contar
osso a ponte quebrada não me leva para o
outro lado olho o espelho d´água e tenho
certeza que vou me afogar engoli o vento da primeira madrugada a casa era caco
de vidros minha filha vaza os pés em rio da ostras nunca mais pensei o mangue
como a morada dos peixes e o canal passava atrás da varanda da cozinha hoje estou
sóbria muito mais que embriagada pela maresia com esse cheiro de sexo
evaporando pelo olhos e o corpo tremendo de susto por não ter com quem gozar
algumas imagens permanecem
na medula da memória e me mantém viva água viva ontem mesmo te vi à estrela
do mar e mesmo não estando foi como se
estivesse tatuada em minha pele com letras de sol e sal nos raios de luz do
luar beijei teu nome nas algas e
mergulhei no teu olhar
fulinaímica
não sei escrevo tanto
não sei se escrevo tenso
um fio elétrico suspenso
com tanta coisa no Ar
não sei se olho em teu olho
pra encontrar a entrada
da porta da tua casa
onde a palavra estiver
não sei se pinto um van gog
ou se escrevo um baudelaire
entriDentes 5
ou uma segunda a tarde em campos ex-dos goytacazes
o grito desestrutura o silêncio atrás da porta a lâmina acesa sangra sob
a luz do abajour lilás a faca escreve a palavra morta dois gumes na noite que estremece
a voz que cala e o assassino limpa a lâmina como quem come sua última refeição
poundianas
torquato era um poeta
que amou a ana
leminski profeta
que amou alice
um dia pós
veio uilcon torto
e pegou a jóia diana
juntou na pereiralice
com o corpo & alma
das duas
foi beauvoir assombradado
roendo o osso do mito
pra lá de frança ou bahia
pois tudo que o anjo dizia
sartre jurou já te dito
NONADA
biúte: ria
fricção
quem passou a língua nas coxas da caipora? me pergunta federico baudelaire
cheirando as flores d0 mal no sarau de euGênio mallarmè gigi então invoca a dona santa federika
que baixa na mesma hora - ora bolas fui eu com minha língua de faca cortei a
cara da vaca a começar pelas coxas depois subi pelo corpo até o buraco da boca
e meti a língua na língua e na suruba das línguas a dela mordendo a
minha a minha mordendo a dela
a arte então se revela não existe arte sem língua nem teatro sem linguagem
a arte é uma grande suruba no segundo andar da padaria e o resto mais é paisagem no altar da perfumaria
fé cega faca
amolada
não quero paz
nem harmonia
na nova ordem do dia
procuro a lucidez
na desordem da orgia
irina
me disse ontem que não quer saber de nada que aconteceu ou que vai acontecer
seu prazer é mais intenso quando não sabe nem pensa no que irá fazer anda muito dada ultimamente não mente quando o assunto é
paixão ou sexo seu desejo é mais complexo que o recôncavo do convexo do baiano
da santíssima salvador e seja como for tem andado muito pensativa com as frases positivas do
seu anjo serafim nas páginas ainda brancas do vampiro goytacá canibal
tupiniquim
a poesia é meta física
meta quântica
itaipu é um paraíso
dentro do que restou
da devastada mata atlântica
irina serafina
quem quiser
que me defina
menina oxum
é por você que me deleito
só por você que me deliro
do lado esquerdo do peito
é por você que me trans-piro
por tudo que foi secreto
por tudo que é sagrado
por quanto já foi escrito
ou ainda não falado
na pedra itapemirim
na pedra de itaocara
guapimirim curumim
guarapari guanabara
em toda água seus mitos
tua flor de lótus tão rara
menina oxum infinito
minha folha verde bonsai
na-mora dentro de mim
de dentro de mim não sai
freudelírica
certa vez
em santa maria madalena
conheci helena
nem de triunfo nem de tróia
no pescoço não levava jóia
apenas um saco de ratos
com os trapos que eram teus
fez de mim gato e sapato
por entre as montanhas de zeus
certa vez em vila velha na
vitória do espírito santo trepei no trem do centro histórico da cidade velha
enquanto andra mirava seus olhos sobre os meus entretanto no entanto nada me
disse em seu silêncio de tanto dizer tanto no trem um tanto no centro um encanto metafórico no trem do engenho de dentro
da cana
o açúcar
o melado
a rapa dura
o chuvisco da gema do ovo
e a minha língua sacana
bagunçando a ditadura
falando a língua do povo
devorável
mais uma vez te venho
porque com essa flecha
que me acerta o peito
teu coração me devora
e me desfaz na pétala
como o vôo de um colibri
velocidade de um beija-flor
tire o seu pircing do caminho
que eu quero passar com meu amor
fosse apenas
uma palavra reta carinho afeto e uma que ainda
falta nesse novo alfabeto que procuro
tateio no escuro outras palavras signos signi ficar signi ficando signi ficado
na hipotenusa do quadrado do cateto no silêncio que muitas vezes ouvi da flauta
do hermeto nas trinta e cinco pausas de renata persigo a trilha em movimento
pés descalços sobre a mata e as palavras brotam cachoeiras água corrente vem da
fonte como sementes desejadas de brotar
a flor do mangue
para cristina bezerra
um dia em gargaú
atravesso para o pontal
onde o paraíba beija atlântico
num ato transexual
outro dia na barra
onde o itabapoana
é quem beija o lixo atlântico
penso
quântico caranguejo
é o beijo do desprezo
são francisco não me engana
nas sagaranagens que faz comigo
eu procuro a flor do mangue
no litoral do teu umbigo
marcabra
perambulava ainda as tontas pelo mar vermelho procurando por carlitos argentino
(o criador dos moranguinhos) vomitava marimbondos depois que assistiu pelas
ruas assombradadas de campos dos goytacazes as mirabolantes peripécias de lady
tempestade desnudando coronéis e lobisomens com suas rajadas de vento confesso que não invento a hipocrisia dos homens
lady tempestade a freudelírica satiriza macabea no presídio
federal de brazilírica interpretando luz del fuego no festival internacional
das artes cínicas com uma serpente de cobre no pescoço
serafina macunaímica
ontem
disse que me amava
queria até transar comigo
hoje foge de mim
tranca a tranca do umbigo
fecha a porta entre as coxas
ela sabe que me deixa louca
e adora provocação
mas vou buscar no cu do mundo
sua libido o seu
tesão
dialogando com o
mestre
o poema pode ser
um trem fora do trilho
a ponte que caiu
a mulher que não deu filho
ou a pedra que pariu
domingo
mar de barco
mar de pele
mar de peixes
mar de algas
como um poema de olga
onda de sal nas minhas mágoas
como sua pele de mel
com sua pele de água
rasguei as velas
que teci em tempestades
rompi as noites
em alto mar de maresias
pensei teu corpo
pra amenizar tanta saudade
e vi teus olhos em cada vela que tecia
o
poema as vezes é sabre
lâmina
fina como o vento
ou folhas suspensas
sobre um verde
quase água
quase pluma
levita sobrevoa se espraia
na voragem do dia
como os dedos da moça
ao atiçar o clic
no instante exato da fotografia
cidade
voracidade
ainda ontem queria te ver mas não
pude – cidade rude oculta atrás do espelho do outro lado da calçada não
decifrei teu mapa muito menos cais da
lapa onde queria mergulhar teu rio desbravar teu cio para depois dormir
até
onde
teus
segredos me aceitam?
até
quando
teus mistérios me pertencem?
até
onde
teus silêncios tem meus gritos?
quando
me deixas assim aflita
perco
o chão por onde pisa
por
onde teu pé desliza
que
não sei quando ele está
e
se perco teus pés de mim
por onde vou caminhar?
se ela vier
e do corpo que comer
a carne
espalharei tabacaria
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como um beijo no teu corpo agora
desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da mata atlântica
quântico amor ou metafísica
tudo que em mim não há respostas
metáfora d´alkimim fugaz brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre as tuas costas
os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e do corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo
mariana
gaivotas sobrevoam os cílios da lagoa teus cabelos louros espelham sal na lâmina d´água o
mar – complemento do teu nome naquela
noite de música mágica – quando vozes da
áfrica saltam da garganta canto de todos os povos no verde da mata luzes na flor da
pele líquida cerveja na sede que não cessa éramos mais que tímpanos absortos
naquele espaço templo com os olhos
famintos devorando luas na constelação
de orions como uma flor de cactos sobre um chão de estrelas
meta morfose
muitas vezes no instante uma mulher por perto noutras meio distante como alcançá-la plena pele pluma palavra carne sal água de mar mesmo fosse água de rio se o que gosta é tempestade só sabe amar por inteiro meu eu perdido em sua fala
sou uma mulher da vida irina severina januária
vascaína uso a minha arma branca pra enfrentar a tirania transo em qualquer rua
de qualquer esquina qualquer encruzilhada de qualquer lua com jorge de
ogum federico de oxum mallarmè de yansã não sou pagã fui batizada na igreja
universal do reino de zeus nasci em ouro preto vila rica sou filha de deus irmã de federika
são fransciso um cisco risco de
mergulhar no precipício saltar o muro na porta do hospício risco
traço de palavras tortas palavra que não dizem nada risco de perder a curva e seguir
a linha reta medo é uma forma concreta de agarrar o abstrato
por enquanto vou te amar assim
sem segredo admirando teu retrato
o tempo
tem seu avesso
para
Prata Tavares in memória
cidade quando penso nela lembro nossas angústias dormem em camas de ferro madeira ou palha nossas palavras também são foices facões ou car/navalhas nossos poemas estiletes canivetes para rasgarem o pano de luxo das mortalhas nossas mágoas lavamos nas águas do paraíba enquanto eles que pensaram serem donos da cidade incineraram corpos na usina cambaíba
esta noite me preparo para o sagrado de amanhã alguma coisa me de algumas coisa me conta que vamos nos fartar de carne humana num banquete antropofágico algum acidente trágico pode estar pra acontecer alguma força simbólica entre nós assim pressinto com a química do absinto caldeirão da alquimia como nas noites da cacomanga preparava minha tia alguma bruxa quem sabe em campos dos goytacazes está pronta pra atacar ou quem sabe pastor de andrade é quem vai nos apresentar
absinto
impossível
te sentir mais do que já sinto
poesia muito prosa as vezes pedra noutras
vezes fedra quero dizer que ainda arde a palavra na palavra corpo quando carne
e sangue incendeiam paiol de milho na fazenda da infância cacomanga era um
tempo de fartura enchada na palavra do poema
ela vendia
brigadeiro
e eu não fui
o primeiro
a provar
suas delícias
federico passou na frente
como
expresso do oriente
nos levando
à boa vista
de onde ela
tinha vindo
a curuminha
contente
vendeu tudo
em um dia
doce que o
povo comeu
sorrindo
ainda dizia
- vocês são
mais loucos do que eu
discípulo de rimbaud
minha tv pifou nem tenho ido ao cinema
meu filme está carne da palavra esse poema é trágico me lembra infância lá na cacomanga televisão
nunca tivemos era rádio de pilha depois
de bateria meu pai criava porcos para vender na primavera
e complementar o seu salário que nem o mínimo era carteira de trabalho nunca teve
como administrador de uma fazenda com mais de 1000 alqueires de terra com produção agropecuária canavieira e cerâmica industrial (usina de moer
gente) esse é um poema em linha reta nem sei por quê e para que me tornei poeta discípulo de rimbaud talvez só para
escrever que no brasil mesmo depois da
abolição escravidão nunca terminou
o curral das merdavilhas
o brasil já foi ilha de vera cruz
e nunca foi ilha
já foi terra de santa cruz
e nunca foi santa
hoje ninguém mais se espanta
com o volume das trapaças
no curral das merdavilhas
desde que resolvi abrir o meu baú de ossos da
memória, que algumas pessoas, que antes desfilavam por aqui como amigas agora
fogem da página como diabo foge da cruz não escrevo para sacerdotes, escrevo
para quem vive em liberdade e faz da liberdade o seu sentido maior de viver não
vivo atrás de portas/cortinas escondido embaixo de panos a minha língua é explícita
linguagem voraz e sacana aprendi com oswald
que humor sarcasmo ironia são armas mortais na cara da hipocrisia
itamarna é uma cidade morna quase cinza sem
brilho mesmo assim pelas noites passeiam por ali vaga-lumes vagabundos com suas
asas de lâmpadas lamparinas irina também passeia por ali pelas madrugadas
vestida de quase nada
mini conto
no livro as vísceras expostas em grande
estilo tudo aquilo que é ferida aberta passeia sobre o branco do papel todos os
órgãos extirpados por uma única facada
sagaraNAgens
a terra aqui é vermelha - branca - é a
carne de dracena tudo cena – dela - só
quero a boca seus olhos de fogo me engolem da janela em frente estou no oitavo
andar de um hotel qualquer seus pelos são pétalas eletrizantes de um maldito
mal-me-quer ajeito o foco da lente para vê-la de perto avisto a púbis de vênus
a língua cresce não seria por menos nem no mais banal dos melodramas com essa
linda louca que me acena aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama
minha ovelha preferida está se
rebelando os ensaios da mocidade
independente de padre olivácio
estão se aproximando e ela não dá as caras vou baixar decreto vou baixar o
santo e não diga no entanto que sou linha dura dessa rapadura você ainda não
viu ela não é santa e não duvido nada que a sua mãe foi a ovelhana que pariu
metafórica
dialética
quantas teorias terei
para escrever o que falo
quantos sapatos ainda apertam
os calcanhares do meu calo?
mar
esse mar que eu tanto quero
se não vem me desespero
esse mar me faz suspenso
esse mar que as vezes penso
e não sei onde vai dar
nesse mar onde mergulho
esse mar me faz barulho
nesse mar tanto silêncio
esse mar que as vezes tenso
e não sei se vai passar
para o mar que mora em mim
o enigma não está propriamente
na meta física da metáfora mar de carne e osso se eu não falasse ou não dissesse
esse relógio trágico com seus ponteiros mágicos arrastando segundo por segundo tudo o que não passa tudo o que não cessa o fluxo em tua boca de vênus - minhas unhas só o céu é testemunha desse instante único
em que passeio em tua pele como uma flor de lótus flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse mar de tanta espuma com minha língua de espera em tua língua de amora em tua língua de mara em tua língua de mar
labirinto
beber dessa tua língua
luziana o líquido da maresia
o suor do mar da linguagem
e tudo mais beberia
no teu corpo em desalinho
em luas de tempestades
em lençóis de calmaria
palavras em tua boca
levaram-me ao descaminho
amarraste-me em tua cama
com tuas garras de linho
depois que me embriagaste
com mil garrafas de vinho
beatriz – a morta
oswald de andrade re-visitado
como pedra me olhas
como fedra te vejo
vestida de carne nua
a língua na maçã navalha
tua alma transparente crua
o olho por detrás da porta
poema com pavio aceso
quando oswald pariu a morta
tinha o dente
nos teus olhos preso
angra
assim como
o pau-brasil
a flor do mangue
também sangra
a traição
das metáforas
caipora tem andado atormentada pelos corredores do presídio federal de brazilírica a maconha mofada de juiz de fora deve ter provocado um efeito negativo em seus neurônios, ela tem andado surtada delirando com perturbações mentais, da ordem dos apocalípticos seguidores do santo daime dai-lhe misericórdia santo zeus caso contrário ela vai acabar no cais da lapa ou procurando jongo em custodópolis, tendo alucinações com maria anita e se arriscando a levar uma coça de umbigo de boi e aprender a não olhar só para o seu umbigo
na traição das metáforas macabea
já sofreu as consequências pelos mesmos delírios e nem psicanálise lhe devolveu
a sobriedade ficou cada vez mais dilacerada pela própria língua/espora com que
tentava ferir a barriga do cavalo ouça um bom conselho caipora aprendi com
chico buarque – e "lhe dou de graça, venha minha amiga faça como eu faço inútil
dormir que a dor não passa venha minha amiga brinque com o meu fogo venha
se queimar eu semeio vento na minha cidade vou pra rua e bebo a
tempestade”
gosto da
leveza dos dedos deslizando feito pluma penetrar a carne e as sensações
saltarem para o abismo do poema depois dos saraus ela ia de pele e na pele dela
eu ia pra trancoso no litoral da bahia
ou para raposo estação d´água de itaperuna curtir a pedra do toque ela sempre
me disse sentir mais minha carne que a pedra do arpoador em maresia
e sempre gozou mais quando a saliva por entre os anos escorria
memórias no desassossego
não sou fernando pessoa mas acordei com o coração
em alvoroço aliás nem dormi literalmente no desassossego da memória uilcon pereira passeava com o seu coração de boatos a procura do gabriel de la puente que até hoje não
sabemos a ponte por onde atravessou sem direito a despedida a luz do farol da barra
me vem aos olhos de um amor que vem chegando e me promete acarajés e escadarias
o tempo ah! o tempo e seus contornos inesperados quando iria imaginar que
depois de ouvir por tanto tempo com paixão sem limites gil caetano gal bethânia estaria agora assim tão assim no colo de uma baiana bebendo o
líquido bom que algum zeus me reservou e deixou guardado para mim?
e ela era uma estudante de
arquitetura que pintou poemas no cachorro louco e escavou imagens em
brazilírica pereira : a traição das metáforas - e quero dizer que ainda arde
tua manhã na minha tarde a tua noite no meu dia tudo em nós que já foi feito
com prazer ainda faria
certa vez numa
visita que fiz ao presídio federal de brazilírica pereira com o objetivo de
levar algum alívio para algumas daquelas almas pecadoras me surpreendi com a
oferta de macabea
:
- morda o meu
pescoço prove do meu sangue
- cruz credo zeus me livre teu sangue não me serve deve estar contaminado de repente com o veneno da serpente
o
cu do mundo onde fica?
minha língua afiada
onde enfiá-la?
fulinaimagem
metáfora nua na janela
meter a língua na linguagem dela
rocei suas mãos em conchas pele
de ostra molhada mel escorreu por entre as coxas beijei o éter no ar pesquei
tua língua que voou depois do coito oito horas depois do abstrato esse lugar
enigmático onde estou quando te quero quero quero no pátio da sala plínio
marcos foi embora alceu valença manda um frevo na esplanada no festival de
pernambuco o eunuco dançarino enrola um papel de seda o pó da pluma na penumbra
penetrou minha asp/irina
A
mulher que goza assistindo
futebol
irina serafina
januária vascaína goza assistindo futebol na televisão do vizinho da esquina
geme berra urra quando atinge o ponto g eu peço não gema não grite e ela grita:
- é gol de roberto dinamite!
tem uma coisa aqui que ainda não sei decifrar o código do
significado 7776668 é o número do apartamento na quinta avenida e não estou em
new york nem em bagdá estou mirando itapoã em salvador dali me disse: meus
bigodes são mais lindos do que qualquer fellini no cinema meu sangue está na
lama misturado a cocaína com a língua clara dessa gosmenta gelatina - enquanto
do outro lado da avenida joaquim pedro de andrade me pergunta: e por onde
andará macunaíma?
sou a lenda
oculta
para o imposto de renda
deixa star
presente
na oferenda
que fiz ontem
pra minha mãe yemanjá
com uma dentada na
veia do pescoço matei o prefeito de cambaíba limpei desossei lavei assei no mesmo forno da usina recheado com
maçãs do paraíso e servi a santa ceia
aos meus 12 apóstolos das bacantes com um farto altar das mil e uma noites
decorado com milhares de garrafas de
vinho para o deleite das 7 eras de vênus
afrodite quem quiser
com os dentes cravados na memória
A
Mocidade Independente de Padre Olivácio – A Escola de Samba Oculta No
Inconsciente Coletivo, nasceu em dezemvro de 1990, durante uma viagem em que
cia de Guiomar Valdez, levamos uma turma de estudantes da então ETFC(IFF), a
Ouro Preto-MG, como premiação por terem vencidos a Gincana Cultural
desenvolvida durante o ano, pelo Grêmio Estudantil Nilo Peçanha. Lá conheci
Gigi Mocidade – A Rainha da Bateria, com quem vivi até 1996.
*
A Igreja Universal do Reino de Zeus, criei em 2002 durante a 1ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ, que foi realizada nas dependências do Ginásio de Esportes do então CEFET-Campos, onde na ocasião lancei o livro BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas, em homenagem ao nosso grande e saudoso mestre Uilcon Pereira.
O grande objetivo da IURZ é homenagear deuses deusas da África e Grécia para de alguma forma descobrir de onde vem as nossas ancestralidades. De alguma forma e em alguns momentos mitologia grega e africana se misturam e viajando metaforicamente nessas realidades reinventadas vim desaguar no Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim.
O Homem Com A Flor Na Boca