terça-feira, 2 de abril de 2024

EuGênio Mallarmè

 

ainda não sei
se baudelérico ou baudelírico
só sei que ando meio mallarmélico
completamente absurdado
com esse leite condensado
na minha língua do delírio

EuGênio Mallarmè

https://personasarturianas.blogspot.com/



arquitetura/poesia

 

enquanto arquitetos

                  desenhistas

desenhavam

eu foto.grafava

              escrevia poesia

 

muitas vezes a arquitetura do poema

me vem em linhas fulinaímicas

                                         sinuosas

se em verso

      ou prosa

  não explico

 

o que me importa

é o ofício

ao qual eu me dedico

 

 por enquanto

vou te amar assim em segredo

como se o sagrado fosse

o maior dos pecados originais

                 e minha língua fosse

                 só furor dos canibais

 

 veraCidade

 

por quê trancar as portas tentar proibir as entradas se já habito os teus cinco sentidos e as janelas estão escancaradas ? um beija flor risca no espaço algumas letras de um alfabeto grego signo de comunicação indecifrável eu tenho fome de terra e esse asfalto sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos quando piso na augusta o poema dá um tapa na cara da paulista flutuar na zona do perigo entre o real e o imaginário joão guimarães rosa caio prado martins fontes um bacanal de ruas tortas eu não sou flor que se cheire nem mofo de língua morta o correto deixei na cacomanga matagal onde nasci com os seus dentes de concreto são paulo é quem me devora   selvagem devolvo a   dentada na carne da rua aurora


para ademir assunção

um nome escrito no vento

 

não quero o sentido normal

da coisa como me aparenta

quero a realidade

exatamente como a gente

simplesmente  inventa 




no concreto do abstrato

na argamassa do concreto

sou

vampiro bêbado de sangue

assassinei os alpharrábios

para inventar meu alphabeto

 

vamos comer mastigar chupar beber

devorar  deglutir cuspir escrever  xingar falar sobreviver  sobrevoar os telhados  de todos os fantasmas  goytacá  ancestrais  invadir os palácios de todos tupiniquins canibais  mesmo que o templo esteja escuro não me mostre o que preciso não quero perder o meu  juízo nos currais de assombradado tem um morcego nas cancelas principais vamos pichar nos muros : sem justiça não haverá paz

 

para Luiz Ribeiro in memória


no lado esquerdo

do peito

o direito não conforta
nem comporta a estrada
que preciso

nu poema 

a porta
que se abre
a procura do inciso


31 janeiro 2010

era um domingo de sol rock and roll e poesia irina gozou comigo quando beijei santa teresa no parque das ruínas com uma bela imagem de cristo tatuada em nossas costas depois de uma noite de sonhos amanhecemos nas laranjeiras dentro do severina o famoso botequim

mais uma vez me beijou e bem ali no pé do ouvido me falou bem assim: - vamos pra saideira meu vampiro goytacá canibal tupiniquim -  meu serafim

a saideira foi itacoatiara itaipu engenho do mato dentro engenho de dentro fora quando penso que clara está vindo irina já foi embora

*

 o barro de alguns barracos  continuam entranhados na carne com seus  nomes tapera cacomanga cupim queimado cambaíba ururaí olinda morro grande santa cruz quilombo lagamar guriri

trago a poeira na sola dos meus pés o sangue das pessoas trouxe impregnados nas  unhas vampiro  goytacá canibal  tupiniquim 

no  branco do papel deponho a faca a foice navalha canivete já fui moleque pivete das esquinas dos bordéis da rua do vieira paraíso perdido joazeiro coqueirinho nas mallarmargens da br já fui do breque dos pandeiros das cuícas do couro cru na carne viva goytacá boy perdido na paulista

 roubei poemas do piva para vender nas lanchonetes mar a vista em bertioga e o coisa ruim do ademir continua na ponta da língua da memória quando  criança brincava nos sonhos com cobras de pique esconde

no porão da casa onde aprendi a enxergar   clara/luz na escuridão quando seus olhos de vidro   viraram espelhos para os meus numa madrugada  27 agosto  1948 datas também me acompanham desde que vi o primeiro clarão diurno quando o trem passou para dores de macabu  quando estive na bolívia senti o cheiro de corumbá ali de perto em assunção do paraguai porto viejo canavarro o barro vermelho no carnaval pelas fronteiras cerveja com caldo de piranha  a dona de um bordel no pantanal chamava os jacarés com nomes de jogadores de futebol quando perdi o avião pra boa vista

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https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/


*

uma menina chamada Beth Araújo

 

Esse espaço tem "mil"textos fantásticos. Poesia ? Prosa ? Não importa ! Imponderáveis,   não há como definí-los. A construção poética se faz presente. Pena que não me sobra tempo para agradecer. Mas a gratidão já fêz morada em mim.  Um afetuoso abraço, envolvido na saudade de sempre.

A menina acima ainda mora aqui e com a alma de sempre para curtir a Arte , em tom maior, apesar das dores intensas da velha.

 É imperativo ler seu/ nosso livro. Espetacular, acho eu com o pouco que li dele. Mas vou ter o livro para tê-lo nas mãos. Tela ? Só quando não se tem jeito. . . coisas da paixão que foi plantada com livro de papel: cor, cheiro, tato, calor, amor pelo ser humano , plantado nas linhas infinitas infinitas  infinitassssssssssssss

Estou sem fala. Emocionada demais. Não é uma emoção triste . É a alegria de ser lembrada e homenageada por você , meu amigo Artur Gomes, amigo e poeta maior, que revoluciona palavras, poema, gostos, jeitos , modos de pensar e de amar. Quando conversamos com você , sempre saímos modificados, o sol se altera, a lua passa a falar coisas estranhas , mas tudo encharcado de poesia. Essa é a sua vida , em que tivemos a sorte de estar incluídos no seu compartilhar poético.

 Beijos !

Beth Araujo, de Itaipú, em 28 / 02 / 2024.


círculo

e surge teu dorso dourado

e vem com a aurora teu rosto

e agora e ainda uma vez e outra mais

aqui estamos

no fragor de lençóis

emaranhados

 

alvos

nus

abandonados

aqui estamos

mar de arranhões

 

lentas mordidas

e o relógio tique-

tapeando o tempo

 

alvos

nus emaranhados

aqui estamos

mar de arranhões

 

lentas mordidas

e o amor truque-

truncando o tédio

e o corpo assimilado

 

e surge teu dorso dourado

e vem com a aurora teu rosto

e ainda e ainda uma vez e

 

Ronaldo Werneck

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