quarta-feira, 3 de abril de 2024

por onde andará macunaíma ?

tem uma coisa aqui que ainda não sei decifrar o código do significado 7776668 é o número do apartamento na quinta avenida e não estou em new york nem em bagdá estou mirando itapoã em salvador dali me disse: meus bigodes são mais lindos do que qualquer fellini no cinema meu sangue está na lama misturado a cocaína com a língua clara dessa gosmenta gelatina - enquanto do outro lado da avenida joaquim pedro de andrade me pergunta: e por onde andará macunaíma?


Artur Gomes 

leia mais no blog https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/

imagem: Basquiat 


A Rosa Vermelha do Povo

para Drummond, Darcy Ribeiro, Brizola e Oscar Niemayer in Memória

 a rosa de Hiroshima ainda fala

a rosa de Hiroshima ainda cala

Frida e seus cabelos de aço

 Picasso pintou Guernica

e quando os generais de Franco

lhe perguntaram:

 

- foi você quem fez isso:?

ele prontamente respondeu

 - não, foram vocês que fizeram.

 

Cartola um dia me disse

que as rosas não falam

simplesmente as rosas exalam

o perfume que roubam de ti

 

Agora trago a Rosa do Povo

para os dias de hoje nesse Templo escuro

 quem poderá viver nesse presente?

quem poderá prever nosso futuro?

nem Zeus nem o diabo que os carregue

 eu quero um reggae um arte lata

a vida é muito cara nada barata

eu sou Drummundo Curumin - no fundo

 Tupã Rebelde não pede arrego

poesia é pra tirar o teu conforto

poesia é pra bagunçar o teu sossego


                               *

educação gramatical

 

ela tem um travessão

atravessado

na frente da palavra quero

me diz: espera

não por falta de desejo

tenho medo de dois pontos:

os seus olhos os seus beijos

pra onde você quer me levar

de tudo que a exclamação possa engendrar

 respondo:

 coloco vírgulas ponto e vírgulas

reticências qualquer outro sinal

abro parênteses

(os meus poemas nunca vão ter ponto final)


Bolero Blue

 

beber desse conhac em minha boca

para matar a febre nas entranhas

entre dentes - indecente é a forma

que te como bebo ou calo

e se não falo quando quero

na balada ou no bolero

não é por falta de desejo

é que a fome desse beijo

furta qualquer palavra presa

como caça indefesa

dentro da carne que não sai



Teatro do  Absurdo

 

o quarteto da hipotenusa

versus o quadrado do quarteto

da hipotenusa a musa no quadrado

do retrato fosse apenas fotografia

mas não sendo hipotenusa

somente musa algaravia

uma palavra mais que estrada

sendo musa multivia

me levou nessa jornada

para fora da bahia

todos os santos mar aberto

no abismo a fantasia

de querer musa entretanto

muito mais que poesia


A flor dos meus delírios

tem cheiro de poesia

relâmpagos de Iansã

incêndio no meio dia

 

Netuno em polvorosa

me disse em verso e prosa

que ela vem com o frescor da maresia

e eu serei o seu Ogum

anjo da guarda e companhia

 

hoje mesmo distante

essa preamar me incendeia

ondas espumas explodem na areia

tempestades trovoadas ventania

e nem sei se estando perto

calmaria



tirar leite das pedras

plantar flores no deserto

talvez seja esta a minha sina

colher a lírica

na argamassa do concreto


metáfora

 

meta dentro
meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro 
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina 
com facho de fogo na retina 
pra clarear o fosso escuro


6 outubro - 2022

 

a mulher dos sonhos

voltou ontem

sedenta faminta insaciável

esgotou-me

à última gota

 

mesmo vazio

me senti um tanto cheio

nem foi delírio loucura

porque vi no meu e-mail

o nome da criatura


*

 Em 1995 no Centro Cultural Maria Antônia, na USP, em cia da minha querida amiga Silvia Passareli, assisti uma encenação de Cacá de Carvalho, com texto de Pirandello que me pegou da medula ao osso. A plateia era de 40 pessoas apenas e Cacá circulava entre nós com a sua energia pulsante magnética. O texto era um fragmento de uma trilogia que ele deu o nome de O Homem Com A Flor Na Boca. E a ele, Cacá de Carvalho, dedicamos este livro


chamaram-me  atrevido

o fonema entrou pelos ouvidos

como um raio de Iansã

                         Eva nem percebeu

                     a serpente no espelho

                         a mordida na Maçã 



Deus não joga dados

Mas a gente lança

tenta –

em arte tudo se inventa

 

 Eu tenho flores

com a língua atravessada em cada canto da boca

 


Dê Líricas

para Sofia Brito 

 

bebo teus olhos atlânticos

e tua voz portuguesa

como quem bebe no Tejo

saudades de Lisboa

 

caminho com os teus passos

em direção ao poema do desassossego

Florbela Espanca Alberto Caieiro Fernando Pessoa



ressignificar eis o verbo

no poema do absinto

o sentido mais concreto

ou mesmo o abstrato

na argamassa do absurdo 


*

 Baudeléricas Bordelíricas 


 o poema um beijo em tua boca bruna tem um B entranhado entre as coxas a pele das amoras gemem quando venta forte em tuas fendas do hoje comi duas nessa manhã incendiária quando vim da cacomanga trouxe nos bolsos da calça remendada linha carretel cola de trigo cerol bambu papel de pipa pique bandeira pique esconde jabuti preá da índia pés de abóboras replantáveis o pé de abacate ainda não nasceu Isadora chegou ontem 30 de março numa tarde outono à sol aberto noite gelada frio na medula maya ainda escreve sobre depressão no tempo folks may abriu as asas pra malásia e a outra mora do outro lado em outra terra rio grande muito longe tenho sede


*


a flor da pele ainda sangra

 

quixaba uma palavra estranha
assim como katchup guanabara guaxindiba
guarapari lembra-me índio capixaba
goiaba carne vermelha
o corpo nu diante do espelho
página do livro onde   grafitei
o  couro cru & carne viva
alga marinha nascida em mar de angra
a flor da pele ainda sangra
como último beijo mordido na boca
                      sem sinal de despedida


*


com os dentes cravados na memória 

 

tontas  vezes me re-par-to mul-ti-pli-co em 7 alegria dos noves fora nada tudo é baudelérico federico me dizia leonardo fez 80 afonso 84 na rede somos 3 quando ele vem já somos 4 em temporais escrevo e sangro como boi antes da morte muitos outros já se foram e nem gozaram em 69 se eu me lembrar 64 não posso esquecer 68 era uma noite de maio peguei o trem pra são cristóvão depois avião para brasília quando voltei no espelho dédala já estava dentro da tipografia


Ofício de Poeta


I

 

franzir a noite

é o mesmo que bordar o dia

costuro o tempo

com linha de pescar moinhos de vento

entre o franzido e o bordado

escrevo um desenredo

e vou foto.grafando

filmando poesia

na solidão dos meus brinquedos


II

 

costuro arco-íris

com linhas de bordar

teus olhos d´água

 

 III

 

pego na enxada diariamente

para capinar o quintal

da estação três cinco três

 

literalmente

 

não é metáfora

para lamber cio da terra

como na canção que Chico fez

 

IV

 

a poesia as vezes me vem da fala

outras de vozes absurdas

na travessia cantei pontos de Jongo

Folias de Reis Festas Juninas

Folguedos de São João

despachos de Macumba

para me defender do capataz

 

pulei  fogueira em brasa

comi o milho assado

nos tempos  do nunca mais 

nunca vivi porto seguro

na minha praia não tem cais

escrevo como falo aprendi com os ancestrais

 

 V    

 

com uma câmera nas mãos   

um poema na cabeça

vamos filmar o poema

antes que desapareça 


A mulher dos sonhos

 

ela ainda guarda na boca este poema entre os dentes a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela fala em meus versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda não fizemos ela mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de fogo quando tem no livro este incenso aceso as entre minhas em  entre linhas  salta das metáforas por entre portas e janelas


*


arde em mim

um rio

de palavras

 

corpo larvas erupção

mar de fogo

          vulcão


*


no romance do Poema

Mário Faustino traçou o seu destino

 

FederikaLispector

 

havia ali
o voo
em que Faustino
se dissolveu
no ar
tornou-se
fausto
anjo
aéreo

 

Herbert Valente de Oliveira

 

 Irreverência ou Morte!

Gigi Mocidade

 

 escrevo para não morrer antes da morte

Federico Baudelaire

 

 o poema é um lance de dados

mas não fugirá ao acaso

 

Stéphane Mallarmé


 
linguagem toda viagem

 

imagens sempre me levam a viagens impensadas fotografias me levam a grafias outras imagens recriadas escrevo não como Manuel Bandeira para não morrer mas como Federico Baudelaire para não morrer antes da morte. ontem o sonho me trouxe ela de volta leve como espuma quando beija a pele da areia. muitas vezes imagens me levam a viajar -  como deve ser escrever para não enlouquecer ¿  muitas vezes algas que ela  traz no mar da boca desce abaixo do umbigo e se encaixa entre as coxas encharca a língua de saliva e me lembra algum despacho Olga Savary quando me diz que mar é 


*


poema

 

o poema pode ser  um beijo em tua boca a orelha de Van Gog bandeirinhas de Volpi os rabiscos de Miró  o assassinato de Lorca o poema pode ser  o que vai o que não fica Lupicínio na Mangueira Noel Rosa na Portela uma jangada de velas um parangolé do Oiticica o poema pode ser os meus músculos de ossos a minha pele de sangue a morte ancestral em cada mangue e os negros nervos de aço estraçalhados em Martinica o bombardeio de Guernica o cubismo de Picasso 


*


                                          o

                                          Delírio é a Lira do Poeta  

se o Poeta não Delira

sua Lira não Profeta

                                          

 ando tendo sonhos antropológicos que mais parecem pesadelos e a desgraça é tanta que dói até nos cotovelos

*

poesia

à flor da barra

 

amor à primeira vista

meu livro vermelho de sangue

Ouro Preto na contra capa

a musa morta no mangue

rosa vermelha no altar

desejo paixão fogo brasa

incêndio na minha casa

para nunca mais se apagar


*


    poema 1

 

o que você faria

se soubesse que és musa

de dois poetas tortos ?

 

um visivelmente você sabe

o outro se oculta

por trás da lua nova

quando deita rede na varanda

               com sua luz de zinco prata


o que você faria

se hoje eu te dissesse

que o tempo tarda mas não finda

e que a lua só é nova

porque se preservou dentro da mata

                                      curuminha ainda ?


 

poema 2

 

esse poema mora dentro de ti

entre pele pelos músculos nervos ossos

quase pronto      mas sempre inacabado

não importa o caminho ou se Cronos 

o disperse em curvas de distâncias

ou que o carinho não baste

quando é sede e fome  o que  se tem no  corpo


*

 

não sei por quantas vezes

nem sei por quantos anos

um pássaro leva para se abrigar no ninho

ou para fazer de um fio elétrico

o seu lugar de pouso

quando quase tudo no poema ainda está por vir

só sei que pode sol e chuva atrapalhar o canto

mas será sempre no teu colo que ele

                                 um dia irá dormir 


poema 3

 

o homem com a flor na boca

faz dos seus versos

poesia um tanto prosa

 

tem na pele o couro cru

e um parangolé

pendurado no pescoço

onde pensamos nervos

no seu corpo -  ali  é osso

 

 tua língua atravessa

o pontal das coxas

quando o leito do seu rio

transborda um oceano

 

carrega espinhos na carne

como fossem pétalas de rosa

com os dentes rasga da musa

 - todo pano - e ali mesmo goza


*

 A folha de papel em branco sobrevoa a transparência diante do espelho onde me espreitam dois grandes olhos  feito jabuticabas de um pomar que inda procuro a palavra escrita ainda não dita de um desejo impuro e a folha branca de papel pousa em tuas mãos como um pássaro não nascido ainda vindo do futuro    


*

se sou torto não importa

em cada porta risco um ponto

pra revelar os meus destroços

no alfabeto do desterro

a carnadura dos meus ossos


hoje

o maior desafio

                          permanecer Nu cio


ando em alpha

quase beta

meu destino ser poeta

*

poema 4

 

meus olhos atravessam

as lentes - o peixe

e caminham em direção a luz

que está do outro lado

o infinito

que me espera com seus

olhos d´água

 

ela virá com sua boca

de batom marrom vermelho

e eu espero

com minhas 7 línguas

atrás da porta

com o mel e o veneno

a pimenta e o azeite

vamos devorar o peixe

no caldeirão incandescente

em nossas línguas

só flechas - o fogo

                     a águardente –

 

 

poema 10

 

meus caninos

já foram místicos

simbolistas

sócio políticos

sensuais eróticos

mordendo alguma história

agora estão famintos

cravados na memória

  

poema 11

 

escorre - nus

teus seios

espuma que jorrei

em tua boca

 

ainda existe algo

entre as coxas

e as costas

algas - água

o sal da língua

que lambeu a tua ostra


 poema 12

 

 

                                                   tem algo de errado

nessas estatísticas de mortes

dessa pandemia

 

multipliquem  60.000 X 10

e ainda não vai ser exato

o número de cadáveres

empilhados nos campos de concentração

que dá um nome ao   país

que ainda nem era uma nação 

 

poema 13

 

arranco mais uma pérola

do ventre de hilda triste

na porta da tua casa

meu poema ainda insiste

 

a menina que matou o tempo

o vento também comia

na lâmina do catavento

pra espantar a maresia

 

nas ruínas de santa teresa

era domingo de poesia

bateu uma pedra no rock

e nos levou na ventania

  

poema 16

 

respiro-te enquanto escrevo

teu cheiro trazido pelo vento

vem da carne de  manga

que mastiguei cinco minutos

 

tens o poder de me deixar em alfa

e me levar aos píncaros 

                           nesse estado êxtase

quando estou em transe

           quando alfa é beta

e o luar da tarde são teus olhos raios

                         quando os meus acerta

 

  poema 17

 

fiz um trato com a ironia

o sarcasmo         a poesia

o bom humor a picardia

 

para enfrentar essa tragédia

tenho de sobra a alegria

e o que não falta em mim é  cobra

                 visceral antropofagia

tenho de sobra em minha obra

          profanação sagrada orgia

 

poema 18

 

nos meus delírios baudeléricos

ou mesmo fossem baudelíricos

sonho teu corpo flor de cactos

como se fossem flor de lírios

toco teus pelos flor do mangue

pulsando sangue em teus martírios

penso teu sexo flor de lótus

sagrada flor dos meus delírios


poema 19

 

a língua hoje passeia

pelos martírios de florbela

em tudo que ela não disse

ou mesmo exposto não revela

pelas janelas do corpo

por todas dores prazeres

no que ficou por dizeres

no silêncio quando cala

por tudo que ainda não cabe

na sensualidade da fala


 tantos pratos

e talheres sobre a mesa

              onde tudo cabe

 

desde que não seja lama

desde que não seja Vale 

*

holocausto

 

quem se alimenta

dessa dor

desse horror

desse holocausto

 

desse país em ruínas

da exploração dessas minas

defloração desse cabaço

 

quem avaliza o des(governo

simboliza esse fracasso? 

 

                 nessa tragédia social

os 270 mortos

em Brumadinho

 mostram que

nesse hospício

 há muita lama

no meio do caminho


*

 

fake book

 

o face detonou

minha família inteira

e lá se foram

os meus amores carnavais

 

e agora o que é que eu faço

sem as Anas sem as Eras

 

as Cristinas Isadoras Micaelas

Vênus Afrodites todas elas

os bem-me-quer dos meu aceiros

                       e dos meus canaviais

 

essa rede assim fascista

 não comporta

os meus poemas canibais


       *

crise

 

diante dessa crise tanta

não adianta

        fazer o que não deve

no improviso do repente

poeta inteligente

não inventa:     escreve

*

ando

tão tenso

nesse tempo

           estático

que não consigo

escrever tudo que penso

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O Poeta Enquanto Coisa

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