sábado, 17 de agosto de 2024

Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras

A poesia liberada de Artur Gomes

                         Por Uilcon Pereira

 

Há uma passagem, em Auto do Frade, de João Cabral, que me chamou a atenção:

“- Fazem-no calar porque, certo, sua fala traz grande perigo.

- Dizem que ele é perigoso mesmo falando em frutas e passarinhos”.

Vislumbro aí  uma espécie de definição do alto poder da poesia, do poeta, da arte em geral: deixar fluir uma energia de protesto e indignação, crítica e iluminação da existência, qualquer que seja o pretexto ou o ponto de partida.

Por exemplo -: Suor & Cio, novo poemário de Artur Gomes. Na sua primeira parte (Tecidos sobre a Terra), lemos um testemunho direto sobre as misérias e sofrimentos na região de Campos dos Goytacazes, interior fluminense. Não se canta amorosamente as lavouras de cana e grandes usinas, os aceiros e céus de anil. Ao contrário. Ouvimos uma fala que “traz grande perigo”, efetivamente, ao denunciar – com aspereza e às vezes até com extremo rancor – a situação histórico-social,  bruta e feroz, selvagem e primitiva, da exploração do homem no contexto do latifúndio e da monocultura.

 

“usina mói a cana

o caldo  e o bagaço

usina mói o braço

a carne o ossso.”

 

Mas essa poesia dura, cortante e aguda, mantém igualmente a sua força de transgressão – continua revolucionária e perigosa – mesmo quando tematiza (principalmente em Tecidos sobre a Pele, segunda parte do livro) as frutas, ou o prazer sexual, os seios, o carnaval, o mar, e os impulsos eróticos. Por detrás dos elementos bucólicos e paradisíacos (só nas aparências, bem entendido), eis que explode o censurado o reprimido, o que não tem vergonha e nem nunca terá:

 

“arando o vale das coxas

com o caule da minha espada

no pomar das tuas pernas

eu planto a língua molhada”.

 

Por isso, frequentemente os poemas se debruçam sobre o próprio ofício do poeta, e sobre o próprio sentido do fazer artístico. Ofício de artista, experiência de poeta: presença do risco da violação das normas injustas: carnavalizando, desbundando a troup-sex, infernizando o céu santificando a boca do inferno, denunciando o rufo dos chicotes, opondo-se aos d nos da vida, que controlam o saldo, o lucro e o tesão.

Os versos de Artur Gomes querem ser lidos, declamados, afixados em cartazes, desenhados em camisas. E vieram para ficar nas memória e bibliotecas da nossa gente, apesar do suor e do cios, graças ao suor e ao cio:

 

“com um prazer de fera

e um punhal de amante”.

 

Uilcon Pereira

São Paulo, julho de 1985

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A poesia pulsa

para Tanussi Cardoso e Ademir Bacca



aqui

a poesia pulsa

na veia

no vinho

no peito

no pulso

na pele

nos nervos

nos músculos

nos ossos


posso falar o que sinto

posso sentir o que posso


aqui

a poesia pulsa

nas coisas

nos códigos

nos signos

os significantes

os significados


aqui

a poesia pulsa

na pele da minha blusa

na menina dos olhos da musa

nas pipas nos arcos

nas madrugadas dos bares

descritas num guardanapo

no copo de vinho

na boca de vênus

na bola da vez da sinuca

sangrada pelo meu taco


aqui

a poesia pulsa

nos cabelos brancos de Bacca

na divina língua de Baco



Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020


A tentação sou eu

 

Deito para lua

só ela pode como eu quero

penetrar-me com sua luz de fogo

me deleitar com seu leite

eu quero a lua cheia

que me entre o mar das cochas

e me engravide com seu manto

e que não fique algum quebranto

o mal olhado o olho gordo

que me lave com seu líquido

e me leve até São Jorge

com o seu cavalo branco

 

Gigi Mocidade


Nu – Literalmente

 

afio ainda mais
a palavra/faca
sílaba/estilete
pornofonia/gilete
poema/navalha
tonicidade/canivete

 

tudo arma branca
subversão bandida
malandragem
da mão esquerda e torta
para cortar o mofo que viceja
em cada voragem morta

 

vez em quando
re-Invento sagaranas
fulinaímicas/linguagem
toco fogo na mortalha
sem metáfora ou retreta
dispo as fardas/literagens
fico Nu ao pé da letra.

 

Artur Gomes

Do livro O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2020

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A Traição das Metáforas

 

Caipora tem andado atormentada pelos corredores do presídio federal de Brazilírica, a maconha mofada de Juiz de Fora  deve ter provocado  um efeito negativo em seus neurônios, ela tem andado surtada delirando com perturbações mentais, da ordem dos apocalípticos seguidores do santo daime. Dai-lhe misericórdia santo Zeus caso contrário ela vai acabar no cais da lapa, ou procurando jongo em Custodópolis, tendo alucinações com Maria Anita, e se arriscando a levar uma coça de umbigo de boi, e aprender a não olhar só para o seu umbigo.

 

Na Traição das Metáforas, Macabea já sofreu as consequências pelos mesmos delírios, e nem psicanálise lhe devolveu a sobriedade, ficou cada vez mais dilacerada pela própria língua/espora com que tentava ferir  a barriga do cavalo. Ouça um bom Conselho Caipora aprendi com Chico Buarque – “eu lhe dou de graça, venha minha amiga faça como eu faço inútil dormir que a dor não passa, venha minha amiga brinque com  o meu fogo venha se queimar  eu semeio vento na minha cidade vou pra rua e bebo a tempestade”

 

Artur Gomes

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enigma

 

o rosto de Clarice

está no imaginário

apenas perceptível

na lírica do poeta

enquanto coisa estética

              da composição

 

o rosto de Clarice

está em tudo

o que ainda não lhe disse

na metáfora do poema . Não


   
a travessia vou fazendo

no inverso

entre os lábios da tua boca

        e as letras do teu verso

 

Rúbia Querubim


travessia no inverso do meu tempo

             sem lenço sem documento

             janelas abertas ao vento

 

Federico Baudelaire



*


Abaporu é uma clássica pintura do modernismo brasileiro, da artista Tarsila do Amaral. Considerada uma obra-prima da autora, a tela foi pintada a óleo em 1928 para ser oferecida ao seu então marido, o escritor Oswald de Andrade.

No quadro vemos a valorização do trabalho braçal (observe o pé e a mão enormes) e a desvalorização do trabalho mental (repare na cabeça minúscula).

O nome da obra é de origem tupi-guarani e significa "homem que come gente" (canibal ou antropófago). O título da tela é resultado de uma junção dos termos aba (homem), pora (gente) e ú (comer).

 

A tela foi pintada por Tarsila em janeiro de 1928 e oferecida ao seu marido, o escritor Oswald de Andrade, como um presente de aniversário.

Quando Oswald recebeu a tela ficou imediatamente encantado e disse que aquele era o melhor quadro que Tarsila já havia pintado. Os elementos que constam na tela, especialmente a inusitada figura ao centro, despertaram em Oswald a ideia da criação do Movimento Antropofágico.

O Movimento consistia na deglutição da cultura estrangeira, incorporando-a na realidade brasileira para dar origem a uma nova cultura transformada, moderna e representativa da nossa cultura.

Conheça um pouco mais da vida e obra de Tarsila do Amaral.

Análise da Obra Abaporu

Esta obra marca a fase antropofágica da pintora Tarsila de Amaral que ocorreu entre 1928 e 1930. É possível identificar traços característicos da artistas como a escolha de cores fortes, a inclusão de temas imaginários e a alteração da realidade.

Na pintura vemos um homem com grandes pés e mãos, e ainda o sol e um cacto. Estes elementos podem representar o trabalho físico que era o ofício da maior parte da população brasileira naquele período.

Por outro lado, a cabeça pequena pode significar a falta de pensamento crítico, que se limita a trabalhar com força, mas sem pensar muito, sendo então uma possível crítica à sociedade daquela época.

O homem em Abaporu representado transmite uma certa melancolia, pois o posicionamento da cabeça e expressão denotam alguma tristeza ou depressão. Além disso, o pé grande também pode revelar uma forte conexão do ser humano com a terra.

A técnica do gigantismo já havia sido praticada antes por Tarsila na tela A negra, pintada em 1923:

Quanto às cores usadas em Abaporu, parece haver uma clara alusão à cultura brasileira pois há destaque para o verde, o amarelo e o azul, cores predominantes da bandeira do Brasil.

O cacto faz uma referência à vegetação de regiões secas, como é o caso da nordestina, e o sol simboliza a dura rotina do trabalhador rural.

Tarsila, em correspondência trocada em 1924, deixou claro a sua vontade de se tornar uma pintora da sua terra:

Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora da minha terra. Como agradeço poder ter passado na fazenda minha infância toda. As reminiscências desse tempo vão se tornando preciosas para mim. Quero, na arte, ser a caipirinha [da fazenda] de São Bernardo, brincando com bonecas de mato, como no último quadro que estou pintado.

 

Quanto às cores usadas em Abaporu, parece haver uma clara alusão à cultura brasileira pois há destaque para o verde, o amarelo e o azul, cores predominantes da bandeira do Brasil.

O cacto faz uma referência à vegetação de regiões secas, como é o caso da nordestina, e o sol simboliza a dura rotina do trabalhador rural.

Tarsila, em correspondência trocada em 1924, deixou claro a sua vontade de se tornar uma pintora da sua terra:

1. Cacto

O cacto é um elemento característico da flora nordestina e, portanto, uma imagem empregada simbolicamente para retratar a brasilidade.

Como é uma planta típica de lugares áridos, o cacto é uma lembrança da seca e da resistência e estabelece um paralelo com o povo brasileiro, celebrado pela sua capacidade de resiliência.

Vale lembrar que o cacto retratado por Tarsila é, assim como o chão, verde, uma cor muito cara à identidade nacional devido à sua forte presença na bandeira.

2. Sol

Símbolo do calor e da energia que propicia a vida, o sol pintado por Tarsila também impõe condições de trabalho duras aos funcionários rurais.

Na tela é curioso que a figura do sol seja semelhante à representação de um olho, que está posicionado acima da figura e do cacto, parecendo observar a cena.

Na composição da obra, o local escolhido para o sol é de centralidade e intermédio entre o cacto e o rosto humano. Parece que a luz emana e permite a vida tanto da flora quanto da fauna.

O amarelo do sol - assim como o azul do céu - está também presente na cor da bandeira nacional imprimindo à obra mais um traço de brasilidade.

3. Cabeça pequena

A cabeça deformada é dos elementos que mais chama a atenção diante do corpo desproporcional imaginado por Tarsila. Não por acaso, a pintora nomeou o sujeito como "figura monstruosa".

Não se consegue distinguir bem as feições da criatura em questão, por isso não sabemos se se trata de um homem ou de uma mulher.

Sem boca, não é possível interpretar com segurança a expressão da personagem com cabeça de alfinete, exceto pelo fato de estar com a face apoiada no braço (seria um sinal de cansaço?).

Alheio(a) ao que se passa ao redor, o rosto também não apresenta orelhas e se encontra muito próximo do sol. Uma das teorias mais divulgadas entre os especialistas é que a cabeça pequena é um sinal da condição da desvalorização do trabalho intelectual no nosso país.

4. Pé e mão enorme

O protagonista (ou a protagonista?) escolhida por Tarsila é uma figura extremamente desproporcional, especialmente se formos comparar as dimensões da cabeça e dos membros direitos (os membros esquerdos estão omitidos).

 

Ele(a) brota da Terra, assentado(a) no chão, assim como o cacto, mostrando-se intimamente ligado(a) ao solo.

Os pés e as mãos ampliados destacam o sofrimento do trabalhador brasileiro, a demasiada importância dada à força braçal e ao trabalho físico em oposição à desvalorização do trabalho intelectual.

Outra leitura possível para o tamanho enorme do pé é o desejo da pintora sublinhar a conexão do homem com a Terra.

Contexto histórico                             

Abaporu foi pintado nos anos 1920, um período especial para o país que vivia o encerramento da República Velha.

A República Velha durou longos anos, tendo se iniciado no dia 15 de novembro de 1889 (com a proclamação da República) e se encerrado com a Revolução de 1930, que veio a depor Washington Luís, o último presidente da República Velha.

Tanto o Brasil quanto especialmente a cidade de São Paulo caminhavam a passos largos rumo ao desenvolvimento. A década de 1920 foi marcada fortemente pela industrialização.

Em termos artísticos, 1922 foi um ano chave para os intelectuais brasileiro. Em fevereiro de 1922, o o Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte Moderna, um evento que reuniu pintores, escultores, compositores, músicos e escritores. O evento havia sido planejado desde o final do ano anterior - 1921 - por Di Cavalcanti e Marinette Prado (esposa de Paulo Prado).

Os artistas se reuniram com o desejo de travar o rompimento radical com a arte em vigência, que consideravam conservadora. Em comum, os intelectuais traziam uma bagagem cultural repleta de ensinamentos aprendidos na Europa. Uma boa parcela dos artistas havia passado temporadas no velho continente e, após regressarem à casa, desejavam por em prática as novidades que haviam visto.

Da Semana de Arte Moderna participaram grandes nomes do cenário cultural nacional como:

·         Mário de Andrade (literatura);

·         Oswald de Andrade (literatura)

·         Sérgio Milliet (literatura);

·         Menotti Del Picchia (literatura);

·         Ronald Carvalho (literatura);

·         Villa Lobos (música);

·         Victor Brecheret (escultura);

·         Di Cavalcanti (pintura);

·         Anita Malfatti (pintura)

·         Vicente do Rego Monteiro (pintura)

Tarsila do Amaral não participou do evento porque encontrava-se em Paris, mas, quando retornou ao Brasil, se integrou ao Grupo dos Cinco. Anita Malfatti, sua amiga das aulas de pintura, foi quem a introduziu ao grupo que também possuía como integrantes Mário de Andrade, Menotti del Picchia e Oswald de Andrade.

 

Tarsila se apaixonou pelo escritor Oswald de Andrade e os dois acabaram por se casar. Em 1923, o Grupo dos Cinco se dissolveu porque tanto Anita quanto o casal Tarsila e Oswald imigraram para Paris.

Informações práticas sobre o quadro

O quadro Abaporu foi adquirido no ano de 1995 pelo colecionador argentino Eduardo Constantini através de um leilão realizado em Nova York. O valor da venda? Meros 1,5 milhões de dólares.

Atualmente a tela encontra-se exposta no MALBA (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires). Especula-se que a obra-prima de Tarsila seja a obra brasileira mais valorizada no mundo, tendo alcançado o valor mais alto de venda na história dos negócios da pintura no país.

Durante as Olimpíadas de 2016, sediada no Brasil, Abaporu participou da exposição chamada A cor do Brasil, realizada no Rio de Janeiro.

Em março de 2011, o Abaporu foi novamente emprestado ao governo brasileiro pelo MALBA. Dessa vez a tela veio integrar a exposição Mulheres, Artistas e brasileiras, idealizada pela então presidente Dilma Rousseff. A mostra foi realizada no Salão Oeste do Palácio do Planalto, em Brasília, e reuniu 80 obras do século XX pertencentes a 49 artistas mulheres do Brasil.

Em termos de dimensões, o óleo sobre tela Abaporu tem oitenta e cinco centímetros de altura e setenta e três centímetros de largura. Abaporu é considerado por muitos historiadores da arte como a pintura mais importante produzida no Brasil.

Antropofagia


esse poema é um tratado
entre o poeta que tem fome de clareza
e sua musa simbolismo de beleza

se eu não beber teus olhos
não serei eu nem mais ninguém
disse o poeta a sua musa ainda esfinge

beber na fontes dos seus olhos
sem medo de ser feliz

ela completa
não quero poema em linha reta
ainda sou clarice/beatriz
é ela quem me diz

mas eu não sou discreto
no abstrato do concreto
no concreto do abstrato

todo homem que tem fome
abapuru é o teu auto-retrato

Artur Gomes
Itabapoana Pedra Pássaro Poema
https://arturgumes.blogspot.com/


Adminimistério

 

Quando o mistério chegar,
já vai me encontrar dormindo,
metade dando pro sábado,
outra metade, domingo.

 

Não haja som nem silêncio,
quando o mistério aumentar.
Silêncio é coisa sem senso,
não cesso de observar.

 

Mistério, algo que, penso,
mais tempo, menos lugar.

Quando o mistério voltar,
meu sono esteja tão solto,
nem haja susto no mundo
que possa me sustentar.

 

Meia-noite, livro aberto.
Mariposas e mosquitos
pousam no texto incerto.

 

Seria o branco da folha,
luz que parece objeto?

Quem sabe o cheiro do preto,
que cai ali como um resto?

 

Ou seria que os insetos
descobriram parentesco
com as letras do alfabeto?

 

Paulo Leminski


a traição das metáforas

 

pássaro sem teto acima do delírio

coração de porco crava no oco da noite

a faca cega punhas de cinco estrelas

na constelação do cão maior

 

sob as pedras a água escorre

cada vez mais longe de mim

 

as vezes pergunto sim

as vezes respondo não

qual o sentido da folha

despetalada no chão?

 

áfrica sou raíz & raça

orgia pagã na pele do poema

 

um feixe de luz

contra a parede das ruínas

nos  seios deste terra eu vi

 

 

 

projeto foto poesia

FULINAÍMA MultiProjetos

Artur Gomes - poesia fotografia

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(22)99815-1268 - WhatSaap

http://arturfulinaima.blogspot.com.br/2016/07/a-traicao-das-metaforas.html

o que vem do mar

 

os búzios não mentem jamais

no que vem do mar além de mim

em seus mistérios muito mais

o que vem do mar é salgado

o que vem do mar é sagrado

o que vem do mar eu não vendo

o que vem do mar não revendo

o que vem do mar eu não falo

o que vem do mar não empresto

o que vem do mar é meu falo

posso jurar que não presto

o que vem do mar que já fui

o que vem do mar o que sou

o que vem do mar me reflui

o que vem do mar eu te dou

 

Federika Lispector

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Amanhã 30/08 -  2024 – é Nós em nome da Poesia dos cachorros loucos

 

nasci em agosto

a contragosto

pai não me disse

       mãe também

o preço da vida

o remédio pra ferida

o custo em cada missa

           pra dizer amém

 

Artur Gomes

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Irina ontem me perguntou se eu estava bem. Em relação a segunda sim, acho que o ofício de poeta me refaz. Enquanto isso Irina vem e vai como uma rima levada pelo vento sem tempo de captar 

 

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Mais perguntas chegando sobre o livro Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim. Desta vez da minha querida amiga Eugenia Henriques e me remetem outras possíveis facetas do Vampiro que eu mesmo não tinha ainda atentado pra elas.  Como o livro é escrito por 12 personagens a resposta para Eugenia pode ser verdadeiramente positiva, ou pelo menos estar presente nas entrelinhas das metáforas.

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Apesar da saúde da máquina corporal meio baqueada vamos chegando aos 7.6. Com 51 deles dedicados a poesia, jornada iniciada em 1973 com o lançamento do livro Um Instante No Meu Cérebro, livro com poemas dedicados aos ídolos musicais da época e a máquina linotipo, na Oficina de Artes Gráficas da Escola Técnica Federal de Campos, onde trabalhei de 1968 a 1985.

 

Ofício de Poeta

 

franzir a noite

é o mesmo que bordar o dia

costuro o tempo

com linha de pescar

moinhos de vento

entre o franzir e o bordado

escrevo um desenredo

e vou foto.grafando

filmando poesia

na solidão dos meus brinquedos

 

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

Editora Penalux - 2023

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fotografia

meu olho gótico TVendo
em mar de fogo e maresia

 

Artur Gomes

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foto grafia

na veia
netuno perdeu seu sapato
na areia

 

Artur Gomes

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fotografia

 

a arte de transformar o tempo

                                  em  poesia

 

Artur Gomes

Foto: may pasquetti

Congresso Brasileiro de Poesia

Bento Gonçalves-RS -outubro 2015  leia mais no blog

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reformar recriar revisitar

ontem fiz uma postagem sobre os 7 anos da perda de Belchior para a cena cultural do país. Assisti   no Canal Brasil o programa  sobre a trilogia re de Gilberto Gil, com foco  sobre os discos: Refazenda, Refavela, Realce, onde ele fala da necessidade de reformar recriar revisitar.

https://www.youtube.com/watch?v=K3d_9TkZkcU

E no Roda Viva retrô de 1991, Gil é entrevistado por um grupo de jornalistas, que dialogam sobre as questões verdes, no meio ambiente, e suas visões políticas holísticas, cosmopolitas.

https://www.youtube.com/watch?v=M93WYLtuwSo

 Hoje vi em um dos meus grupos no zap o comentário do Luis Turiba:

“Viva Belchior

Porque hoje é sábado”

E me remete ao emblemático poema de Vinícius de Moraes que invadiu os palcos do Brasil lá pelos idos dos anos 70. Revisitar este poema e recriá-lo é um dos meus desafios do momento.

 

Artur Gomes

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Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras

 

 ela não era apenas

carne para a fome
do desejo
ela era o próprio desejo
da fome
estampada em letras grandes
na foto grafia do teu nome

 

Artur Gomes

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Entre os dentes

trago uma língua afiada

                    carNAvalha

para tudo que me valha

 

Rúbia Querubim

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Afrodite

 

Aurora  pimenta do reino

filha de Zeus ou Vulcano

da vastidão do Luar

nas brunas do oceano

nascida na espuma do mar

na Era Atena me disse

pra Hera nunca dissemos

em grego a Deusa do Amor

em Roma  sinônimo de Vênus

também a irmã de Helena

que ao filho de um  Rei Prometeu

para a ira de Menelau

quando soube que Páris sou Eu

Dioniso das festas de Baco

do vinho dos ritos das juras

Afrodite em mim criatura

Bacante que o cosmo me deu

menina da ilha de Creta

mulher quando o vinho é na cama

a que sabe beber do que ama

sem pensar no que  Cronos secreta

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

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Agora que Isadora em mim amoras

no pomar da minha casa  meu corpo incêndio

no barril é pólvora a carne em chamas

no esqueleto brasa o fogo acende

os pavios entorpecidos e o instinto volta

                         a fazer parte dos sentidos 


AGORA NÃO SE FALA MAIS

 

Agora não se fala mais
toda palavra guarda uma cilada
e qualquer gesto é o fim
do seu início:

Agora não se fala nada
e tudo é transparente em cada forma
qualquer palavra é um gesto
e em sua orla
os pássaros de sempre cantam
nos hospícios.

Você não tem que me dizer
o número de mundo deste mundo
não tem que me mostrar
a outra face
face ao fim de tudo:

só tem que me dizer
o nome da república do fundo
o sim do fim
do fim de tudo
e o tem do tempo vindo:

não tem que me mostrar
a outra mesma face ao outro mundo
(não se fala. não é permitido:
mudar de idéia. é proibido.
não se permite nunca mais olhares
tensões de cismas crises e outros tempos.
está vetado qualquer movimento

 

Torquato Neto


Ainda

 

Estou pagando as prestações

dos janeiros de minha mãe.

 

As casas que sonhei

são palavras-úberes

crescendo sobre a pradaria. Rebanhos

 que trafegam com meus artelhos.

 

Aqui, ergueram-se as núpcias

 verbais dançando à chuva. Sou parte

desse rito e desse esquecimento.

 

 Aqui, esteve uma faca

sobre a mesa e a certeza

 atravessando os mortos.

                           Nas relíquias

que o sol deixa aos olhos.

 

Hei de esperar-te, estrela inomeada, acostado ao cortejo

do mundo (e à majestade de tuas fraturas); hei

 de livrar-me do tanto

que me inundas em teu seio

de sangue e mosto.

 

Tu que me ensinas a morrer de mim,

 a exceder meu próprio arrendamento

 

Salgado Maranhão

In Pedra de Encantaria

Editora 7Letras – 2021

 

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